sábado, 27 de abril de 2013

Capítulo 24: "O que tens de tão urgente para falar comigo?"

(Passado 7 dias)

A minha vida deu uma cambalhota enorme nestes últimos 7 dias. Posso confessar que tudo mudou. Não vou para melhor, nem pior, foi para… Diferente. Muito diferente. Mas começando pelo início, o João ficou sem reação quando lhe noticiei a gravidez, ele não esperava aquela “bomba”, e logo no início da relação. Afinal quem era o namorado que esperava que a namorada estivesse grávida… Doutro? Confessou-me que me adorava e queria namorar comigo, mas não se sentia preparado para ser pai. Mas com o tempo e a meu lado estava disposto a mudar isso, queria crescer e ser feliz a meu lado. E isso deixou-me mais feliz que nunca, talvez a nossa relação não resultasse durante todo o crescimento (dentro e fora da barriga) do meu filho, mas eu sabia que tinha alguém a apoiar-me em todas as circunstâncias. Apesar de estarmos juntos há tão pouco tempo, nós já tínhamos vivido momentos mágicos. Tínhamos prometido perante o olhar da lua e do mar, no dia em que começamos a namorar que estaríamos juntos, nos bons e maus momentos e que lutaríamos pela nossa relação. E se algo nos incomodasse, nos prendesse o coração, ou a garganta, se algo nos “sufocasse”, que estaríamos juntos e desabafávamos. Falaríamos, porque a base de uma boa relação entre namorados é a amizade e essa existia.
E graças ao meu namorado João que a minha relação com o Ezequiel mudou. Sentamo-nos á mesa como dois “meninos crescidos”, deitamos para trás qualquer mágoa ou ressentimento, qualquer ódio que nutríamos e falamos sobre o que sentíamos e pensávamos. A nossa relação foi curta, é verdade, mas foi intensa. E seguiu-se de uma notícia bombástica. A minha gravidez. Só este ser vivo, do tamanho de uma cabeça de um alfinete mudou radicalmente a nossa vida. No fundo, nós tínhamos mágoas um contra o outro que nunca as dissemos, “sapos” que engolimos, sentimentos que desprezamos e guardamos para nós. Foi uma relação que teve como definição a infantilidade/imaturidade de ambos, nós não nos conhecíamos quando começamos a namorar e isso condicionou tudo. Estávamos dispostos a dar mais uma oportunidade. Mas enquanto amigos. Não tínhamos qualquer sentimento de amor um pelo outro, tanto que eu já estava com o João e era por ele que nutria um sentimento, que poderia chamar de amor.
Quanto ao bebé… Esta é a “bomba” mais difícil de engolir. Na verdade nunca houve bebé. O teste de gravidez deu um falso positivo, e a ecografia que supostamente o médico me fez, foi apenas uma “vingança” pelas respostas rudes que dei às secretárias do hospital. Não acredito que alguém pudesse deixar tão baixo, mas assim aconteceu. Eu criei laços com a minha barriga, porque ser, nunca existiu. Por um lado era algo bom, não estava “presa” ao Ezequiel para o resto da vida, não seria mãe cedo, e poderia viver o romance com o João sem problemas (pelo menos relacionadas com esta questão), por outro lado, era um filho, era uma parte de mim que vinha ao mundo, era algo que sempre quis. O realizar de um sonho. Ser mãe… Era algo que sempre idealizei. E durante semanas pensei que estava á espera de um ser que nunca esperei. Mas a minha vingança e do Ezequiel foi feita ou não me chamo eu, Raquel!
Senti este bebé, mas afinal não o tinha. E isso causava um certo sentimento estranho em mim, sentia a necessidade de o ter, sentia necessidade de ser mãe. E desta vez teria um pai para o meu filho, seria um pai presente. E o Ezequiel seria o padrinho. Mas não podia nem iria fazer isso, não iria engravidar, queria estabilizar a minha vida e só depois pensar no futuro. Não estou preparada e o João não está. Além disso, temos uma vida pela frente. Mas precisava dele ao meu lado, isso era certo.

-João. – Estava sentada no seu colo e ele deu-me um beijo sobre a testa. – Tu… Tu… - Comecei a gaguejar, não sabia como abordar o tema. Mas tinha de o fazer, ficaria desiludida comigo mesma senão o fizesse.

-Princesa, não precisas de te engasgares. Do meu lado não há vergonha, só amor. – Sorri, só pelo facto de ele assumir em voz alta que estava apaixonado por mim, apesar de sermos namorados me deixava feliz, nas nuvens, é a definição perfeita.

-Eu adoro-te tanto mas tanto Joãozinho! – Disse aconchegando-me e ouvindo o seu coração aumentar de ritmo. Batia mais rapidamente e eu não entendia o porquê. Olhei para ele e senti uma lágrima cair do seu olho, limpei-a e disse. – Não chores, eu não quero que chores, não aguento ver-te assim. – Ele sorriu e deu-me um beijo na testa. – Queres contar o que se passa?

-Joãozinho era o que a minha mamã me chamava carinhosamente. – Disse sorrindo mas entendia pela expressão que a sua vontade era de chorar, por isso abracei-o fortemente e disse:

-Desculpa. Não queria... Desculpa. – Na verdade eu era terrível a lidar com mortes, com condolências e tudo o que fosse apoio. Preferia ficar calada a meter a “pata na poça”.

-Tu não sabias. E não precisas de pedir desculpa. A minha mãe é e sempre será a mulher da minha vida, que me protegerá, está neste momento no céu a olhar por mim. – Vi os seus olhos brilharem como duas estrelas cadentes e sem mais nada dizer beijei-o. E ele correspondeu totalmente. Mas assim que separamos as nossas bocas, ele sorriu e disse. – Mas neste momento tenho é de tomar conta da minha princesa que és tu! – Disse beijando-me a testa.

-Já te disse que te adoro? – Disse dando-lhe um beijo na testa.

-Não me lembro! – Fingiu. - Mas podes dizê-lo que gosto muito! E não sei se gostas. – Disse fazendo um beicinho que fazia derreter o meu lado mais difícil.

-Eu gosto muito, muito, muito de ti! – Disse eu enquanto lhe dava um beijinho á esquimó.

-E quem te disse que gosto de ti? – Disse sorrindo. E eu fiquei sem reação confesso que fiquei desiludida. – Eu claro! E se o digo é porque é verdade… E já agora gosto o dobro do que tu gostas!

-Isso é mentira! – Disse convicta. – Eu gosto muito, muito, muito de ti! Desde ali. – Apontei para o sol. – Até aqui. – Apontei para o coração. – E vai continuar a aumentar a cada dia que passa.

-Oh! – Disse querido. – Mas eu gosto mais. Desde o sol até Plutão.                                    

-Oh tonto mas isto nem dá para ver a olho nu.

-O amor não precisa de ser visto, precisa de ser sentido. E bate forte aqui dentro. E prometo-te Raquel Alexandra, que um dia te chamarei Raquel Cancelo.

-E se eu não quiser ficar com o teu apelido? – Comecei a rir-me. – E quero que o próximo homem que irá gostar tanto como eu gosto de ti terá Cancelo no nome e te chamará de pai.

-Gosto tanto, tanto de ti minha gostosa. – Disse beijando-me.

-Mas eu deveria gostar mais de ti, sabes porquê? Por tudo o que fizeste por mim, por não teres desistido de mim, por tudo o que me deste, por tudo o que me ensinaste. E hoje, orgulho-me de te chamar meu namorado. – Disse aconchegando-me nos seus braços.

-Eu nunca desistiria de ti, porque sempre senti que gostava de ti. Ainda é cedo para dizer amo-te e talvez não me sinta preparado, quero dizê-lo, e tu sabes que sim. Mas este sentimento que vive e cresce em mim aumenta a cada dia e a cada instante, e pode ser mais cedo que pensas que te diga amo-te. Porque estou cada vez mais certo disso mesmo. Lutarei por ti, porque é de ti que eu gosto. Muito, muito! Eu tenho medo de dizer amo-te, tenho medo de dizer e dar uma parte de mim e depois ficar sem ela. Desculpa, sei que mereces mais, mas desde a minha mãe… - Vi que ele ia começar a falar sobre um assunto que ainda o magoava e lhe custava muito falar. Eu sabia que ele gostava de mim, não precisava de dizê-lo. Ele tinha atitudes que o provavam, e dizia-o por gestos e atitudes.

-Não precisas de falar mais. Eu conheço-te João Pedro. Eu não sei o que tu estás a sentir, mas imagino. E sei o quanto sofres. E o quanto gostas dela, a tua mãe é, e sempre será a mulher da tua vida, não haverá ninguém como ela. Podes casar-te e teres muitas filhas mas não haverá ninguém como ela, é eterna. E com certeza estará neste momento a olhar por ti, no enorme céu, e a proteger-te.

-E o teu pai está no céu. A olhar e a rezar por ti, tomará sempre conta de ti. E juntos estão a olhar por nós e a rezar por nós e faram tudo para continuarmos juntos. – Disse ele beijando-me na testa.

-Eles podem-nos apoiar mas quem vai lutar, somos nós. Pela nossa felicidade e para continuarmos juntos. Só dependemos de nós mesmos. E no futuro seremos nós os três, quatro ou cinco.

-Porque tantos? – Perguntei sem entender.

-Porque depois de namorarmos durante algum tempo, tenciono casar-me e ter os nossos 3 filhos.

-E porque não apenas dois? Mais do que isso é muito trabalho e deixamos de ter tempo para nós. – Sabia bem o trabalho que uma criança dava, já esperei uma (e pensei que esperava a segunda). Além disso tenho a minha sobrinha e chegou-me este susto com a gravidez. Além disso, temos ainda que educar o Pedro, o irmão do João, meu cunhado.

-Eu gostava muito de ter três filhotes, mas só vou ter os que tu quiseres. Não posso pensar só em mim, tenho de pensar em nós.

-Também depende muito se o primeiro der muito ou pouco trabalho. Mas por enquanto vamos concentrar-nos no Pedro! Ou queres falar mesmo sobre bebés? O meu historial é extenso…

-O Rodrigo faz parte da tua vida e se faz da minha também faz. Quanto á segunda gravidez foi apenas para nos testar e passamos com segurança e confiança. Ou como diz o outro, com tranquilidade. – Sorrimos. E ele beijou-me, um beijo calmo e tranquilo.
Mas o ritmo começou a aumentar e nem o olhar forte da lua interrompeu o momento. Fiquei deitada sobre a areia com o João sobre mim e enquanto as minhas mãos estavam nas costas (sobre a camisola) do João, as suas mãos que estavam pousadas na minha face, foram até às minhas ancas. E tentaram entrar pela minha camisola dentro mas eu não permiti. Afastei as mãos dele de perto de mim e levantei-me e ele também seguiu o meu exemplo.

-Desculpa. – Disse eu.

-Desculpa eu. Deixei-me levar pelo momento.

-Quero levar tudo com calma entendes?

-Claro! Deixei-me mesmo levar pela emoção do momento. Não preciso é de te perguntar se és virgem…

-Achas mesmo que engravidei duas vezes por obra do Espírito Santo? Estás muito enganado foram ambos feitos com muito amor!

-Até fico com ciúmes! – Fez beicinho. – Eu também te farei um bebé com todo o carinho e amor!

-Fazer é fácil, difícil é educar. Mas vá, já que tu me perguntaste… Tu já o fizeste?

-O que é que achas?

-Se soubesse não te teria perguntado. – Disse cruzando os braços e trocando um olhar cúmplice.

-Não. Só o fiz com a minha ex-namorada e estivemos juntos cerca de 2 anos.

-O que é que estás a insinuar? Que vou para a cama com qualquer um? – Levantei-me indignada. Apenas tinha feito sexo com dois homens e namorei com ambos, apesar de serem relações diferentes das ditas normais. Além disso não gostei da sua insinuação. Ele poderia ser meu namorado mas isso não lhe dava autoridade para me chamar o que quer que fosse, não lhe dava o direito de me insultar.

-Desculpa. Não foi bem isto que quis dizer. Queria apenas referir que o historial de relações amorosas na minha família é extensa, costuma começar para não acabar, como foi com os meus avós.

-Então se querias ficar uma história dessas porque não ficaste com a tua ex? – Disse enquanto ele se levantava. Estávamos a começar a nossa primeira discussão, não me agradava mas não era razão para desistir dela. Nada lhe dava o direito de me insultar. E o fato de já ter tido dois ex-namorados não lhe dava o direito de me julgar. Sim, estive grávida e fui julgada por tal. Mas não esperava isto do João.

-Não é nada disso que eu quis dizer. – Disse levantando-se.

-Pois mas disseste. E não podes voltar com a tua palavra atrás. – Disse olhando-o furiosa.

-Mas posso redimir-me. – Agarrou-me pela cintura, pousou as mãos sobre as minhas costas e eu pousei as mãos sobre o seu peito e deixei que ele me beijasse. O beijo foi sentido apesar de calmo, foi um carinho que também nos serviu para acalmar. Assim que terminou, encostei a minha cabeça ao peito do João e ele encostou o seu queixo á minha cabeça e continuou. – Deu para me redimir? – Perguntou enquanto eu sorri.

-Se eu te pedisse o segundo achas que serviria enquanto resposta? – Levantei a cabeça e deixei que ele me beijasse. Mas desta vez foi um beijo ritmado e louco de desejo. Era um beijo que se dependesse de nós não terminaria. Mas tudo o que é bom tem um fim, o beijo acabou e tivemos que nos despedir porque eu tinha a minha família á minha espera para jantar.
Passamos por casa do Nico, onde ele estava com a Rita, e apanhamo-la, e o João foi-nos pôr a casa da minha prima. Mas a despedida foi demorada, e a Rita convidou o meu namorado para ir jantar á sua casa, mas ele recusou. Talvez fosse demasiado cedo conhecer a minha família toda, porque embora (quase) toda a conhecesse, porque ele como jogador de futebol era conhecido, ele não os conhecia e depois do susto da suposta gravidez mais vale deixar tudo acalmar. Ainda era cedo para dar um passo tão grande e nós prometemos ir com calma. A despedida entre os dois ainda demorou algum tempo, não nos queríamos despedir mas sabíamos que tinha de ser. Ele iria jantar com a família e eu com a minha.

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O jantar correu bem. Era um jantar de família, simples, só para nos juntarmos e reencontramo-nos. Falamos da minha (suposta) gravidez, e da responsabilidade que era, ter uma criança nesta altura. Eu sabia disso, mas o meu sonho sempre foi o de ser mãe. E se estivesse mesmo grávida, eu ficaria com o bebé, não deixaria de ter um pai e uma mãe, não deixaria de ter uma família, porque o pequeno não teria o mínimo de culpa de estar no mundo, a culpa e a responsabilidade era dos pais e eu iria assumi-la.  Perguntaram-me pela paternidade do bebé, eu apenas disse que se chamava Ezequiel e era meu ex-namorado. A Rita ficou em silêncio e nada mais disse, respeitou a minha decisão.

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Depois do fim do jantar, despedi-me da minha mãe e fiquei a dormir em casa da minha prima. O telemóvel tinha ficado em minha casa mas não foi motivo suficiente para não dormir lá na mesma, apesar de já sentir algumas saudades de falar com o João. Como não tinha o meu telemóvel mandei mensagem do telemóvel dela para o meu namorado:

“Deixei o meu telemóvel em casa e fiquei a dormir em casa da minha prima. Se for preciso podes mandar mensagem ou ligar para aqui e o número da Ritinha. Beijinhos adoro-te meu rei <3 Qeu”

Passado alguns minutos ele respondeu:

“Por acaso já estava a ficar preocupado contigo… Tinha-te mandado mensagem com saudades tuas e tu nada, e tinha-te ligado, e tu não atendeste. Ainda bem que me avisaste senão já ia à tua procura! Mas agora vou-me deitar que estou cansado e amanhã tenho jogo. De manhã ligo-te e combinamos tudo para ires assistir, se quiseres. Beijinhos adoro-te minha rainha <3 “

 -Que sorriso é esse Qeu? – Perguntou a Rita a entrar pelo quarto.

-Qual sorriso?

-Esse. – Apontou para mim. – Espera já sei! – Sentou-se ao meu lado. – É o amor! – Disse gozando comigo.

-Tens muita piada! – Sorri. – Foi o João que me mandou mensagem para o teu telemóvel porque estava preocupado. Realmente não poderia ter arranjado melhor namorado. – Sorri e imaginei todos os momentos que passamos juntos.

-Estás mesmo completamente apanhadinha! – Disse dando-me uma palmada na cabeça.

-Olha quem fala! Tu estás tão apaixonada pelo Nico que nem te conto! Só dás motivos para gozo! – Disse na brincadeira.

-Mas tem piada gozar contigo. Mas conta lá o motivo de tanta felicidade.

-Estar apaixonada não chega? – Disse retoricamente.

-Isto está bonito está! – Rimo-nos. – Conta lá priminha, o motivo desse sorriso tão grande e tão expressivo.

-Como sabes, quando comecei a namorar com ele, ouve a história da gravidez. E ele assumiu que não estava preparado para ser pai, mas me iria acompanhar. Depois descobrimos que afinal não estava grávida e foi… Esquisito, assumo. Por um lado queríamos muito este bebé, por outro lado ainda hoje temos o hábito de pôr a mão sobre a barriga. E hoje… Falamos em bebés. Em filhos. Ele quer três, mas assume que se eu quiser ter menos, ele aceita e fica feliz. E falamos dos nossos pais, que estão no céu a olhar por nós, a torcer por nós mas o mais importante sou eu e ele. E depois de um momento mais triste uma coisa leva a outra e… - Ela interrompeu.

-Tu e ele fizeram amor?

-Não. Porque eu parei senão sei até onde ia parar…

-E porque paraste?

-Quero levar tudo com calma. Um passo de cada vez e tenho medo de ao fazermos que estejamos a dar um passo maior que a perna.

-E o que disse ele?

-Entendeu. É por essas e outras circunstâncias que digo que tenho ao meu lado um dos melhores homens que podia pedir, senão o melhor.

-Nem imaginas o quão feliz fico de te ouvir dizer isso! Tu mereces e ele também! Mas já sabes tem de haver uma apresentação oficial á família e em especial a mim.

-Lembraste que falei em calma? – Disse relembrando-a. Podia apresenta-lo só a ela, oficialmente enquanto meu namorado, mas preferia dar tempo ao tempo.

-Sim claro. E além disso quem sou eu para falar?

-Pois. Mas agora quem não vai falar mais sou eu que vou dormir. Beijinhos prima, dorme bem. – Disse dando-lhe um beijo na testa e deitando-me e ela fez o mesmo.
A Rita adormeceu logo, o que é para estranhar. E eu fiquei a “molengar” na cama, tinha sono e estava cansada, mas só pensava na tarde que tinha pensado com o João e como seria o dia de amanhã. Como o sono não aparecia acabei por ouvir música do telemóvel da Rita. Até que ele apita mensagem, sem ver quem era tinha enviado acabei por abrir:

“Olá Rita! Desculpa estar a chatear-te tão tarde mas quero mesmo falar com a Qeu com o máximo de urgência. O Nico disse-me que estavas com ela e mandei mensagem a perguntar se podia ligar para falar com ela, é mesmo urgente! Desculpa e beijinhos Ezequiel”

Desliguei a música e fui até á casa de banho, onde me tranquei para ligar ao Ezequiel. Era a única acordada naquela casa e não queria acordar ninguém. O que quer que fosse o motivo do Ezequiel, era urgente e preocupada liguei-lhe.

-Desculpa estar-te a chatear Ritinha mas é urgente. – Disse quando atendeu a chamada.

-Não é a Rita, é a Qeu. E o que tens de tão urgente para falar comigo? – Disse baixinho mas muito depressa. E esperei pela resposta dele.

Qual será a urgência de Ezequiel?
Que influencia terá no romance com João? Como irá correr o dia seguinte com João?

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Capítulo 23 “De um beijinho para o meu neto!"

-Mais quais consequências dos meus atos? Eu engravidei não cometi um crime! Sim, dependo de ti mas este bebé não depende só de mim, depende do pai, dos padrinhos, dos avós quer da parte da mãe como da parte do pai. Dizes que não tens condições para nós, logo o melhor era irmos para os Açores, para junto de uma família que é do meu sangue mas que não me diz nada. Que não quer saber de mim, queres isso para o teu neto? Pois bem eu vou, só quero o melhor para o meu filho. Mas dá-me tempo para me despedir dos meus.

-Tens uma semana. Raquel, não faço isto contra ti, antes pelo contrário, é para teu bem. Sabes o quão desesperante era não ter dinheiro para chegar ao final do mês, ter medo de não poder dar de comer á minha família? Não digo que seja definitivo mas pode ser que te faça bem para pensares no que queres da tua vida, se queres o João ou o Ezequiel. – Sorri. Entendi a sua questão, mas para mim estava longe de ser um problema.

-O Ezequiel é pura e simplesmente o meu ex-namorado, o pai do meu filho. Não vamos ficar juntos para sempre, não vamos namorar nem casar só porque vamos ser pais. É tão certo como me chamar Raquel, ele não me odeia mas se poder evitar ver-me à frente melhor, só quer saber deste filho da minha parte. O João tu sabes aquilo que é, somos amigos… Mas há algo mais, e prefiro não falar muito sobre isso. O jantar não correu bem e saber que me vou despedir dele para ir viver para longe não ajuda em nada.

-Queres falar sobre isso?

-Não. Talvez noutra altura, agora quero é tomar um banho reconfortante, deitar-me e dormir. Que amanhã um longo dia me espera. – Levantei-me e dei um beijo na bochecha da minha mãe e ela deu-me um na testa. Quando já ia a sair da sala a caminho da casa de banho, ela chama-me:

-Qeu. – Olhei para trás e vi-a aproximar-se de mim. – Esqueci-me de uma coisa.

-Das boas noites?

-De um beijinho para o meu neto. – Baixou-se até á minha barriga e deu uma camisola sobre a minha barriga e desejou. – Boa noite netinho. – Gostei daquele gesto carinhoso da minha mãe para com o meu filho, seu neto, apesar de ser difícil lidar com o facto de ser mãe, ela conseguiu ter a calma e o sangue frio de o aceitar. E aquele toque, soube-me bem, talvez porque foi o primeiro contacto de outra pessoa com o meu filho. Levantou-se e sussurrou. – Boa noite filha.
A minha mãe foi-se deitar e eu fui até à casa de banho para tomar um banho reconfortante. Um banho demorado que te preferência. Coloquei toda a espuma que consegui dentro da banheira e fui até ao meu quarto para ir buscar o meu telemóvel para ouvir música. Voltei para a casa de banho e despi-me, liguei a música e coloquei-a baixinho e entrei para dentro da banheira. A música que tocava dizia-me tanto de uma forma assustadora e diferente. Demi Lovato- Give Your Heart A Break. Dar um tempo ao coração, Secalhar era disso que precisava, precisava de pensar, de tomar decisões importantes, de pensar antes de agir, precisava talvez de espaço, para pensar o que queria para a minha vida, para descodificar o que palpitava no meu coração e para pensar no meu filho. As minhas decisões influenciavam diretamente quatro (4!) vidas: a minha, do meu filho, do Ezequiel e do João.
Depois de banho tomado foi altura de me vestir e ir dormir, já estava pacífica o suficiente e tinha tomado uma decisão importante. O Ezequiel acusou-me de irresponsabilidade e infantilidade, pois bem, está na altura de eu demonstrar uma outra faceta, vou viajar até aos Açores, mas vou avisá-lo, vou noticiar o mesmo. Mas tenciono voltar antes do final da gravidez, quero que o pequeno nasça em Lisboa, junto daqueles que amo. Quanto ao bebé a minha ideia inicial é esperar pelos 3 meses, eu sei que assim me afeiçoou ainda mais do que estou neste momento, mas preciso de me tranquilizar, preciso de tomar uma decisão, preciso de sentir que consigo levar isto avante, e mais tarde, quando eu e o Ezequiel (quem sabe!) conseguirmos falar sobre o bebé sem nos exaltarmos talvez consigamos tomar uma decisão, mas que não passe pelo aborto. Eu quero ser mãe, mas talvez não tenha condições, nem esteja preparada, por isso adoção talvez seja uma opção. Quanto ao João, talvez eu goste dele, mas tenho medo de entrar numa relação com ele, tenho medo de o levar para uma responsabilidade que não é a sua, tenho medo que ele… Me abandone quando souber da gravidez!
Fui-me deitar e rapidamente encostei a cabeça na almofada e sonhei, sonhei:
“A gravidez é uma marca importante na vida de um casal. Isso é certo. A minha barriga crescia a olhos vistos, parecia que todos os dias se tornava maior e o meu amor pelo João crescia ao mesmo ritmo, a minha relação era estável, eramos namorados, amigos e companheiros. Ele aceitou bem o meu filho e com o desleixo do Ezequiel, acabou por aceitar bem o bebé, aceitou-o como seu. Acompanhou todas as etapas da minha gravidez e foi a todas as ecografias, ao contrário do Ezequiel que se esqueceu que tinha um filho, que se desleixou totalmente, que se esqueceu que o tinha feito.


Gostava de ter uma menina, até porque já tive um menino anteriormente e o João era responsável pela educação do irmão Pedro. Mas se viesse um menino eu seria feliz na mesma, queria era que viesse com saúde e feliz. E até porque se assim fosse, eu já teria escolhido o nome, teria o nome da falecida “avó”. O João sempre quis um menino porque dizia que faria companhia a jogar futebol, que seria um craque do futebol como o “pai”. Mas a ecografia acabou por cair sobre o lado do João, era um rapaz. E ele ficou todo contente e o Pedro também, já não seria o júnior na família. Em homenagem ao futuro padrinho e com um carinho especial para o “pai” acabei por deixar que os “mano” escolhessem o nome. E a escolha caiu sobre Miguel. João Miguel Cancelo. Para todos os efeitos o pai seria o João, o Ezequiel apenas fê-lo.
 O bebé nasceu e pouco tempo depois nasceu uma menina, esta sim filha do João. E tinha o nome da avó paterna. O tempo acabou por passar e eu fui feliz como nunca, sentia-me preenchida como mulher e mãe.


Mas a vida acabou por ser-me injusta, tremendamente injusta e num acidente trágico de viação acabei por ficar só eu. Morreram os meus filhos e o pai de ambos, o meu namorado, João. Fiquei apenas eu e o Pedro. Mas o vazio governava em mim, será que não tinha direito a ser feliz?”
Acordei deste terrível pesadelo e certifiquei-me que era tudo apenas um sonho, a minha barriga ainda era pequena, ainda era o bebé do Ezequiel. Ele não me tinha abandonado, e o João não foi, nem era meu namorado. Mas isso dependia apenas de mim.
Levantei-me e pelo barulho que vinha da cozinha entendi que não estava sozinha, corri até á cozinha e era a minha mãe. Abracei-a e chorei. Ela não disse nada até me acalmar, mas assim que o fiz, limpou-me as lágrimas e disse-me:

-Qeu. Antes de ser tua mãe sou amiga e sei que não estás bem mas não sei o porquê. Explica-me o que se passou. E tem calma, ninguém, mas ninguém merece as tuas lágrimas. – Disse olhando-me olhos nos olhos.

-Mãe… - Tentei manter a calma. – Eu não estou bem. – Disse inspirando. – Eu tenho medo que o João me abandone quando souber do meu filho. Tenho medo que o Ezequiel não queira saber do filho. Tenho medo de não levar com a gravidez avante. Tenho medo mãe… Medo de perder este filho! – Disse chorando.

-É normal isso que estás a sentir Raquel. Não é que tu sejas insegura mas na situação em que estás é normal. Principalmente agora que estás separada do pai do bebé e que o João não sabe da tua gravidez. Mas tem calma, tudo se resolve. Vais ter sempre pessoas ao teu lado, apesar de outros irem embora. Mas tu és mais forte e vais conseguir superar quaisquer obstáculos. – Abracei-a.

-Obrigada mãe. Mas tenho medo que o Ezequiel não queira este bebé, tenho medo que ele veja a barriga a crescer, que veja a responsabilidade que vai ser e desista. É o caminho mais fácil. E como não sente rigorosamente nada por mim há exceção do ódio é bem capaz. E depois do que eu lhe feliz é normal. Mas o menino não tem culpa. – Coloquei a mão sobre a barriga. E a minha mãe respondeu:

-Filha, tens de ser frontal. Tens de falar com o Ezequiel e dizer-lhe que tenho medo que ele me abandone, tenho medo que não queira este filho, e ele sabe bem da história do Rodrigo… - Fui interrompida pela minha mãe.

-Isso são águas do passado. Deixa estar onde pertencem, ao passado. Não há volta a dar e neste momento o futuro é este bebé a ir almoçar que o almoço já está na mesa.
Acabamos por almoçar e acabei por arrumar a cozinha enquanto a minha mãe se despedia de nós e ia até ao aeroporto informar-se sobre o bilhete para ir até á ilha de São Miguel, qual o preçário e os dias em que podia ir, mais tarde iria trabalhar até muito tarde e ficava mais uma vez sozinha com o meu filho.
Acabei por me ir deitar mais um pouco e adormeci no sofá, mas foi apenas durante uma hora. Acordei com o som do telemóvel, rapidamente me levantei e fui ver quem era. Era o João. Queria falar comigo e eu atendi mal vi quem era:

-Olá jeitoso! – Disse sorrindo.

-Olá boneca! – Respondeu alegremente.

-Então como estás? Acreditas que sonhei contigo?

-Vai-se indo… Então se sonhaste comigo tiveste um excelente sonho!

-Que engraçadinho! Por acaso foi um pesadelo mas não quero falar sobre isso.

-Está bem eu entendo. Estás ocupada ou tens tempo?

-Para?

-Para falarmos. Mas não será ao telemóvel. Combinamos um local e falamos, isto claro se estiveres disponível.

-Estou pois. Então mas estás a pensar nisso… Agora?

-Sim. E para ser num sítio especial, será na praia. Praia do Tamariz dentro de 1 hora que te parece?

-Que tu deves pensar que não tenho vida! E por sorte não tenho nada que fazer. Mas rica paciência são 2 dias seguidos merecia folga nos próximos… 15 dias no mínimo!

-Sim Qeu também te adoro! E tens boleia para lá? Não te quero a pegar no carro enquanto não tiveres a carta. Se a estrada é um perigo com carta sem carta pior é!

-Sim papá! Então vens buscar-me ou tenho de ir de transportes?

-O que é que achas que estou a fazer á porta da tua casa? – Fui á janela espreitar e viu-o ao lado do carro, encostado.

-Já te disse que és um tolo?

-Já te disse que te adoro?

-Ai que raiva João! Deixa-me concentrar numa tentativa de discussão contigo!

-Quando chegares cá abaixo eu tiro-te ainda mais. Agora despacha-te que está um bom dia!

-Tu gostas de ter sempre resposta na ponta da língua não é?

-Despacha-te lá que eu já estou á tua espera.

-Vou só vestir-me e já desço.

Corri até ao meu quarto e olhei para o armário. Não tinha nada de especial! Tinha de ir às compras com urgência mas por enquanto tenho é que me despachar que o telemóvel já toca e é o João está com pressa. Acabei por vestir o que achei mais bonito na altura, não era perfeito mas por enquanto tinha que dar.


Pus perfume e desci até junto do João. Pus-me atrás dele sem ele entender e ele disse:

-Eu sei que és tu Qeu. Vá agora deixa-me ver-te.

-Então e se não fosse eu e fosse uma fã incondicional e uma admiradora secreta?

-Tu és minha fã incondicional e já foste minha admiradora secreta.

-És um convencido de primeira! – Disse sorrindo.

-Também gosto muito de ti gata! – Abracei-o. – Agora dá-me um beijo senão for pedir muito! – Dei-lhe um beijo na bochecha e ele sorriu enquanto eu corava. – Chamas a isso beijo? – Agarrou na minha cintura e encostou-me ao carro e colocou-se á minha frente, não tinha por onde escapar nem o que fazer e sinceramente não queria tentar resistir-lhe, por isso puxei-o contra mim e beijei-o com todo o sentimento que tinha em mim. E ele correspondeu totalmente. As suas mãos que outrora estiveram nas minhas ancas voaram até á minha face e as minhas mãos foram até ao seu peito onde se encostaram e ficaram durante o beijo que foi calmo mas sentido. Encostei os meus lábios aos seus, e ele correspondeu totalmente, ao início foi tudo calmo e manteve tudo na máxima calma, mas o tempo fora passando e a sua língua, apesar num toque envergonha tocou na minha e envolveram-se, não havia vergonha nem medo. Queríamos apenas desfrutar o momento, que acabou apenas porque o ar já nos escasseava.
Entrei para dentro do carro, para o lugar do pendura e ele foi até ao lugar do condutor, ligou o carro e seguimos até á praia do Tamariz, apenas se ouvia o rádio. Sabíamos que o mais indicado era falarmos sobre tudo, mas num local apropriado. E talvez a praia e o mar fossem os nossos melhores conselheiros.


Fomos até á beira-mar e sentamo-nos lado a lado. Ouvíamos apenas as ondas do mar, porque a praia estava deserta, talvez devido ao frio que se fazia sentir. Toda aquela paz acalmava-me e o João parecia também calmo. Quem começou a conversa fui eu, mas foi atrás de uma canção que a letra me inspirava e descrevia um ponto da nossa relação:

Don't wanna break your heart (Não quero partir o teu coração)
Wanna give your heart a break (Só quero dar­-lhe um tempo)
I know you're scared, it's wrong (Sei que estás assustado, é errado)
Like you might make a mistake (Como se fosses cometer um erro)
There's just one life to live (Há apenas uma vida para viver)
And there's no time to waste, to waste (E não temos tempo para desperdiçar, para desperdiçar)
So let me give your heart a break (Então deixa-me dar um tempo ao teu coração)
Give your heart a break (Dar um tempo ao teu coração)
Let me give your heart a break, your heart a break (Deixa-me dar um tempo ao teu coração)


Cantei-lhe apenas um excerto da canção, talvez fosse mais fácil cantar-lhe do que dizer-lhe. Eu sabia que tinha de lhe dizer que ia ser mãe, mas não sabia como e a melhor maneira de o preparar era através de músicas. Ele respondeu:

Would you let me see beneath your beautiful (Deixavas-me ver por baixo da sua beleza?)
Would you let me see beneath your perfect (Deixavas-me ver por baixo da tua perfeição?)
Take it off now girl, take it off now girl (Desfaça-se disso agora, rapariga, desfaça-se disso agora, rapariga)                                                     
I wanna see inside (Quero ver-te por dentro)
Would you let me see beneath your beautiful tonight (Deixavas-me ver por baixo da tua beleza esta noite?)


Levantei-me e ele levantou-se também, olhámo-nos e os nossos corpos estavam próximos e estávamos no cenário perfeito, eu, ele e o mar. Abracei-o e ele deu-me um beijo na testa. Separamo-nos e disse-lhe:

-João eu gosto de ti e sei que tu também gostas de mim, mas tenho medo de te levar para um problema que não é teu e para uma responsabilidade que não é tua. Mas tenho de te contar senão este medo moí-me por dentro.
Ele agarrou nas minhas mãos e disse-me:

-Eu estou aqui. Eu estarei contigo em qualquer altura. Mas por enquanto concentra-te no lado positivo, no nosso lado e o que queremos é estar juntos. Quando quiseres falamos sobre o que tanto mal te atormenta tanto.


-E estás disposto a esperar?

-Sim. Mas não estou disposto a esperar por te pedir isto.

-O quê? – Olhei-o e ele encostou os seus lábios e perguntou-me:

-Queres namorar comigo? – Senti-me nas nuvens, abracei-o, beijei-o e respondi:

-Claro que sim! – Voltamo-nos a beijar e sentamo-nos à beira-mar a namorar, oficialmente éramos namorados e eu sentia-me bem, muito bem. Mas talvez fosse melhor contar-lhe antes que fosse tarde demais. Ele merecia saber da minha gravidez.

-João, tu mereces saber. – Ele aconchegou-me nos seus braços e eu continuei, embora com os olhos fechados, tinha medo de o enfrentar com esta notícia e tinha medo de enfrentar o mar. Naquele momento precisava de falar com o João, mas como se falasse sozinha. Como se interiorizasse e dissesse a mim mesma o que me esperava do futuro. – Estou grávida! – As ondas começaram a bater mais fortemente contra a areia. Dei tempo para que ele respondesse mas a resposta tardava e eu tinha medo da sua reação. Depois de algum tempo em silêncio ele acabou por responder…

Que terá respondido João?
Como ficará a relação deles? Como reagirá Ezequiel ao padrasto do filho?