segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Pedido de Desculpas

Olá leitoras lindas!

Como já devem ter notado não escrevo há algum tempo e como tal tenho de pedir desculpa.
Não existe qualquer tipo de problema na escrita, as ideias para o capítulo 31 são bastante claras e estão decididas à já algum tempo. Como pude ver no grupo do facebook da fic, existe uma "vantagem" para o Ezequiel como namorado e para o João enquanto amigo, mas gostavam que ambos continuassem na vida da Qeu. Mas estão prontas para qualquer decisão dela.

Mas enquanto escritora tenho inspiração e sei o que escrever, mas é algo mais pessoal que me "corta as pernas". O meu ídolo é o João e o ídolo da Qeu é o Ezequiel, enquanto eu prefiro que a personagem escolha um, ela gostava que fosse o outro e a vossa opinião também conta. Enquanto escrevo os capítulos e leio, os meus sentimentos fortificaram-se pelo João, foram-se tornando mais claros e melhores. É com um enorme orgulho que falo nele e o mesmo se aplica á Raquel (não a personagem mas a pessoa), os sentimentos pelo Ezequiel foram-se tornando mais fortes graças ao que escrevo (porque ela também lê o que escrevo).

E felizmente tivemos oportunidade de estar com eles e falar. O João impressionou-me, fez-me tornar ainda mais fã dele e a Qeu sentiu exatamente o mesmo pelo Ezequiel e ambas abdicamos um pouco de tempo com o ídolo da prima (porque o somos mesmo na realidade) para deixarmos a outra viver tudo e sermos felizes nem que fosse durante minutos.

E isso afetou-me enquanto pessoa, tenho receio de escrever este capítulo porque sinto que estou a "magoar" o que ficará apenas amigo dela, o "não escolhido". Pode parecer estúpido para quem lê, mas foi o contacto e os sentimentos que me fizeram sentir este capítulo de uma forma diferente. E como vou acabar o secundário dentro de pouco tempo também me tem dificultado tudo. E o fim da "Por Ti" também veio mudar um pouco do que se vai passar com esta fic (até porque estão ligadas). E comecei também recentemente uma fic, se quiseres fica aqui o link caso queiram ler:

www.because-you-are-my-heaven.blogspot.pt

Mas vou tentar até Dezembro escrever o capítulo, peço desculpa pela demora, mas as explicações já foram dadas. Espero não vos desiludir!

Beijinhos,
Rita Carvalho

sábado, 21 de setembro de 2013

Capítulo 30: “Amo-te El Negro”

O Ezequiel. Quando beijei o Ezequiel, senti um turbilhão de sentimentos, também senti com o João é claro, mas foi completamente diferente. Com o Ezequiel senti as “borboletas no estomâgo”, o coração a palpitar de uma forma única, um sentimento único do seu toque, da sua pele a tocar na minha, nem tudo nele é perfeito, mas tudo o que nos envolve é. Com o João o sentimento é diferente, parece que não sinto de forma tão intensa. Com o Ezequiel é amor, puro. Com o João é diferente, completamente diferente, sinto-me bem ao lado dele mas sinto-me melhor ao lado do Ezequiel. Com o Ezequiel sinto-me bem a falar, a beijá-lo, a estar com ele, com o João sinto-me bem a falar, a desabafar com ele, com os seus abraços mas os beijos dele não mexem tanto com os meus sentimentos como os do Ezequiel. Talvez tenha confundido os sentimentos em relação ao João. Preciso de tempo para digerir tudo, para tomar consciência da minha decisão e anunciá-la. Mas não queria magoar nenhum deles. Queria beijar o Ezequiel e abraçar o João, declaram-me ao Ezequiel e falar com o João. Fui ao twitter, era bom partilhar os meus pensamentos por ali, mas havia limites. Segui-a o Ezequiel e ele a mim, por isso não me podia declarar e dizer que estava apaixonada. Até poderia mas ele perguntava-me por quem e eu não lhe queria dizer. Preferia falar-lhe pessoalmente. Assim que abri dei de contas com um tweet do Ezequiel:

“When you're mine (Quando fores minha)
I'll be generous (Eu serei generoso)
You're irreplacleable (És insubstituível)
Uncollectible (Incolecionável)
Just like fine china (Como uma bela porcelana)

’Cause when you're with me, I can't explain it (Quando estás comigo não sei explicar)
It's just different (É apenas diferente)
We can take it slow (Podemos ir devagar)
Or act like you're my girl (Ou agir Como se fosses minha)
Let's skip the basics” (E saltar as preliminares)” Q


Sempre que ele escrevia uma mensagem e acabava em Q era para mim. Q de Qeu. Por muitas outras justificações que tentasse arranjar aquela era a mais acertada, e cada texto que ele escrevia, enquadrava-se no bocado de história em que nos encontravamos. Era como um código, só nosso. E bem ele não poderia ter escrito estas frases, estavam em inglês e tinham aspas o que só podia significar que ele tinha ido buscar a algum lado. Escrevi a letra no google e cheguei a uma música. Não conheci mas fiquei curiosa e comecei a ouvi-la e a ver a sua tradução.


Aquela música falava não só para mim como para o João, ele sabia que eu ia ler e responder, como fizera a todos os textos que ele me tinha escrito no twitter, todos indiretamente. Ele acabava os tweets com um Q e eu acabava com um N. Se ele punha a inicial da minha alcunha porque razão não punha a inicial da alcunha dele, “El Negro”? Fazia sentido na minha cabeça.
Respondi-lhe:

“Right from the star (Desde o início)
You were a thief, you stole my heart (Foste um ladrão e roubaste o meu coração)
And I, your willing victim (E eu, tua vítima condescendente)
I let you see parts of me (Deixei-te ver partes de mim)
That weren’t all that pretty (Que não eram tão bonitas)
And with every touch (E com cada toque)
You fixed them (Tu consertaste-as)” N


Se ele queria mandar-me uma mensagem direta através de músicas, eu ia dar-lha. Ia dar-lhe esse prazer, de lhe responder e dizer que o nosso amor não estava acabado, nem esquecido, que estava aliás numa excelente fase, que o amor que sentia estava mais forte que nunca, e existia certezas absolutas do que eu sentia, por ele. E pelo João. Por muito que me custasse, o João é meu melhor amigo, sempre o será, mas o Ezequiel é o meu namorado, o meu amor, o homem que já me fez mudar um pouco e continuará a fazê-lo, que me tornará uma melhor mulher e uma melhor pessoa, que vai abrir o coração ao amor e ser feliz. Se tivermos a nossa oportunidade, eu sei que ele me fará feliz. Talvez se fosse tentar uma relação com o João, talvez a relação durasse mais, ele amava-me e eu gostava dele, porque amar não acredito que se ame duas pessoas em simultâneo. A base para uma boa relação é a confiança e a amizade, e eu e ele eramos melhores amigos. Mas eu não gostava dele tanto como ele gosta de mim e não conseguia viver com isso. Quero esquecê-lo, não é por não o amar ou por saber que não seriamos felizes, é para o proteger, é para conseguir ser feliz ao lado do Ezequiel.
Claro que sei que não é fácil ter uma relação, ainda por cima, eu que não tenho um bom historial com relações. Mas sei que o Ezequiel pode-me fazer mudar, tenho é de acreditar nele, tenho de acreditar naquilo que sinto, em nós. Com o João, ele é meu melhor amigo, vou magoá-lo, farei tudo para o evitar, mas nunca é fácil dizeres a alguém que queres na tua vida, alguém que é teu amigo e gosta de ti com todas as forças que não o amas do mesmo modo.
Sai á rua, pouco faltava para a hora de almoço e decidi ligar ao João. Um toque, dois, três e ele não atendia. Continuei em chamada mas ele não atendia e isso deixava-me preocupada. Peguei no carro, que embora tenha prometido a mim mesma que não o faria mais até ter carta e parti em direção a casa do João. Não me lembrava ao certo onde era, porque nunca fiz o caminho sozinha, sempre foi ele a conduzir, mas queria ir á procura dele, liguei-lhe mais duas vezes pelo caminho e não atendia. Começava a ficar preocupada, demasiado, não era de todo normal. Embora tenha andado meio perdida, acabei por ir ter a casa dele, embora não soubesse ao certo qual foi o caminho exato, estacionei mesmo em frente ao prédio onde ele vivia e deparei-me com uma situação inesperada. O João e o Ezequiel, estavam frente a frente, a conversar. Eles não eram propriamente “amigos” e “disputavam-me”. Não sabia se havia de sair do carro e tentar perceber se discutiam ou se tinham uma conversa normal, ou se deixar que tu acontecesse naturalmente e não me meter entre eles. Mas a curiosidade falava mais alto, decidi sair do carro, mas de forma que eles não me vissem. Aproximei-me e deixei-me esconder atrás de uns arbustos, suficientemente perto deles para ouvir o que se passava.

-Eu amo-a Ezequiel. Não sabes o quanto eu a amo e não queria desistir dela, sou o melhor amigo dela e ela a minha, e sei que ela também sente algo por mim. Mas quando ela está contigo é simplesmente... – Fez uma pequena pausa. – Diferente. Eu conheço-a, sei o que ela vai decidir, tu vais ser a escolha dela. – Gelei ao ouvi-lo. Será que ele me conhecia tão bem ao ponto de saber que ele não era a minha escolha? Ou será que eu é que era previsível?

-João, tu és o melhor amigo dela. – Respondeu sereno o Ezequiel. – Ela apaixonou-se por ti primeiro, logo como é óbvio, tu és a escolha dela. Tu dás-lhe os conselhos e apoias-a como eu nunca farei, como ela nunca conseguirá fazer comigo. Amo-a, não nego. Escolha ela quem escolher, temos apenas de prometer que tomaremos bem conta dela. – Respondeu no seu “portunhol” do qual eu já conhecia bem. Era a minha oportunidade de intervir, mas não sabia se o deveria fazer ou não. Por isso decidi manter-me sossegada e nada dizer.

-Ezequiel, posso não ter explicação para muitas coisas da minha vida mas uma coisa eu sei, que ela te vai escolher a ti. – Disse calmamente, com uma calma que me assustava. -Pela maneira como vocês se falam, como se olham, como se tocam. Não penses que não me custa muito dizer-te isto, custa imenso mas estou a fazer o melhor para ela. Vai atrás dela, luta por ela e nunca, mas nunca a deixes baixar os braços ou deixes de lutar por ela. A Qeu é muito especial, é difícil mas tu sabes que é uma rapariga que no fundo só tem medo de ser amada e de amar de volta. – O João conhecia-me melhor do que eu que conhecia a mim própria e gostava de mim ao ponto de sofrer para eu ser feliz e aquilo causava em mim uma sensação estranha no estomâgo, como era possível ele conhecer-me tão bem e adormar-me a este ponto? – Por favor cuida dela, e ama-a, por mim. – Disse enquanto virava a face do Ezequiel, e deitava lágrimas pelos olhos que eu sabia que não conseguia controlar, por muitas palavras que dissesse, correu até ao seu prédio e eu fiquei sem saber o que fazer.
O Ezequiel ficou surpreso a olhar para o percurso que o João tinha feito em direção a sua casa e eu surpresa estava também. Pôs a mão no bolso e procurou o telemóvel, não foi muito difícil encontrá-lo. Digitou um número sem precisar de ir á agenda telefónica, seria então de alguém a quem ele telefonava várias vezes ou alguém que ele gostasse muito. O meu telemóvel tocou. Não, ele não podia estar a ligar para mim... Como o toque estava alto tive de o atender logo que senti que tocava para não ser apanhada.

-Sim? – Respondi baixinho.

-Olá Qeu! – Disse ele. Tive de me afastar para poder falar mais alto e assim ele não entender que estava próxima dele e tinha ouvido a conversa. – Como estás? – Não, Ezequiel! Não comeces com aquelas conversas só para falar, sê direto eu gosto disso!

-Ezequiel não estejas com meias medidas, tu ligaste-me por algum motivo. Tu não ligas só para falar com as pessoas, pelo menos do que eu conheço de ti. Por isso desembucha.

-Realmente tens razão. Quero estar contigo, daqui a uma hora na praia do Seixal valle? – Claro, cada frase tua tinha um toque “espanholado” e aquela não era exceção. Sinceramente não sabia o significado mas respondia sempre de uma forma qualquer, podia ser um disparate mas pelo menos tentava.

-Aquela praiazinha ao pé da estação de barcos e perto do Caixa Futebol Campus né? – Perguntei.

-Sim. Queres que te vá buscar?

-Deixa-te estar, eu vou lá estar não te atrases! – Disse e desliguei a chamada. Ele até falou algo que eu não entendi mesmo pela distância que tinha dele, e sinceramente não dei importância. Esperei que ele fosse até ao carro e se fosse embora, dei algum tempo de intervalo e fui em direção ao Seixal.
Assim que cheguei á praia senti-me bem. Aquele ambiente apaixonava-me, fazia-me sentir bem e feliz, fazia-me sentir ainda mais apaixonada pelo Ezequiel. Amava o João... Mas como amigo. Falaria com ele, mas não agora. Não tinha visto o Ezequiel e decidi fotograr aquela paisagem:


Fui até ao twitter e publiquei:
Aqui sinto-me bem!”

Rapidamente recebi um twitter de resposta. Era do Ezequiel.
E podes sentir-te ainda melhor do meu lado!”

Procurei-o pela praia e não demorei a encontrá-lo. Aproximamo-nos um do outro, um pouco mais rápido do que a andar em passos normais. Ficamos próximos um do outro, mas sem nos tocarmos. Cruzamos olhares e ele pousou as mãos sobre o fundo das minhas costas e eu aproximei-nos, quebrando a curta barreira que nos separava. Pousei as mãos sobre o seu peito e deixamo-nos ficar encostados. Dei um pequeno beijo sobre o seu peito e ele deu-me um beijo sobre a minha cabeça. Ficamos assim durante segundos, mas que me souberam bem. Especialmente bem. Sussurrou-me:

-Te quiero Qeu! – Disse-me de forma a que apenas conseguisse sentir o vento e o Ezequiel a sussurrar-me ao ouvidl. E sabia bem. Não sentia frio, porque o Ezequiel me protegia de qualquer temperatura e de qualquer coisa.

-Amo-te El Negro! – Sussurrei de forma a que ele me conseguisse ouvir também. “El Negro” era a sua alcunha e eu decidi usá-la também.
Olhei para ele e ele para mim e beijamo-nos. Ainda havia muito para conversar mas sabia bem perder-me nos braços dele e sentir que o mar nos acompanhava e embora não falasse era a nossa testemunha que nunca iria revelar nada a ninguém.

Como ficará o amor de Qeu e Ezequiel depois destas declarações?
Será que vão ficar juntos? E João como fica?

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Capítulo 29 “Há impulsos que não conseguimos controlar...”

-Qeu. – Fez uma curta pausa apenas o suficiente para tentar controlar a respiração. – Há impulsos que não conseguimos controlar, sentimentos que tentamos esconder e não dá. E eu quero-te agora, neste momento, comigo a meu lado. Sem pensar em mais nada, não quero saber se já decidiste ou não, não quero pensar se amas o João ou a mim. Eu quero aproximar-me de ti, sentir esses lábios nos meus e poder sentir que és minha. Nem que seja uma última vez. – Disse tudo aquilo sem me dar tempo de reagir e mesmo se tivesse dado eu não sabia o que fazer. Tinha sido completamente apanhada desprevinida. Foi bom ouvi-lo dizer que me queria a seu lado, que me queria só para ele e senti que o sentimento era recíproco. Ele aproximou-se lentamente de mim, de forma a entrar em casa, e eu fugia dele, não era por não querer, mas era o que os meus instintos me mandavam fazer. Um arrepio percorreu o meu corpo, atravessou a minha espinha, já tinha sido dele, ele já tinha estado dentro de mim, já tinha tomado os meus lábios de assalto por bem mais que uma vez. E lembrar-me disso fazia-me sorrir, soube-me bem e gostava de repetir. Ele fechou a porta e agarrou-me pelas costas, puxando-me ferozmente contra o seu corpo. O seu desejo falava alto, alto de mais e o meu, embora controlado, começava a ser acordado por aquele que estava bem vivo no Ezequiel. Encostou-me á porta e pousou as mãos na porta ao meu lado, de forma a cercar-me. As minhas mãos foram para o fundo das suas costas e agarraram-se á camisola embora o meu desejo fosse sentir a sua pele a tocar na palma das minhas mãos, mas não só, queria sentir os nossos corpos embaterem um no outro. Ele tomou os meus lábios de assalto e uniu-os num beijo que nunca fora descrito como calmo, sempre tivera um ritmo alucinante, repleto de amor, mas também de vontade de o amar. De o sentir, de o aproximar de mim a cada instante. O beijo só terminou quando nos escasseava o ar, foi bom voltar a tomar aqueles lábios e sentir as nossas línguas como uma só, apenas quatro dia desde o último mas sem arrependimentos desta vez. Sem outro sentimento a invadir-me a alma.
Depois do beijo terminado, continuei de olhos fechados, tinha medo que fosse um sonho e se os abrisse ele acabava, voltava á triste realidade de estar apaixonada por dois homens e de ambos estarem desiludidos comigo, magoados demasiado. E merecia-o por tudo o que lhes tinha feito de pior, fui egoísta.

-Secalhar não devia ter feito isto. – Confessou estando ainda há minha frente e eu sem abrir os olhos a sentir a respiração pesada sobre a minha face. – Mas já me vou embora. – Colocou a mão sobre a fechadura para sair, mas eu não queria que ele se arrependesse ou que não o repetisse.

-Beija-me. – Pedi num suspiro pouco audível até para mim.

-Qué? – Perguntou ele, naquela palavra que de portuguesa tinha pouco. Devia  ter origens espanholas. Não sabia senão tinha ouvido bem ou se queria apenas voltar-me a ouvir-me suplicar algo assim.

-Beija-me. – Disse com o tom de voz mais alto e audível. Mas ainda sem abrir os olhos, não tinha coragem – Faz-me acreditar que isto não é um sonho! Tenho medo de abrir os olhos e não ser real. De ser apenas a minha imaginação a falar. – Confessei honestamente.

Ele voltou a fazer dos meus lábios seus e só Deus sabe o quão bom era sentir-me assim. Amada. Sentir que era real, não porque o vi a entrar na minha casa e dizer aquelas palavras, mas sim porque sentia o seu perfume entranhar-se nas minhas narinas, o doce sabor da sua boca a tocar na minha e a sua língua a fazer uma sintonia perfeita com a minha. A sua mão, embora com vergonha, irrequieta e com vontade de explorar mais. Este beijo foi o oposto do último, o primeiro demonstrava desejo, paixão ardente e sangue a fervilhar nas nossas veias, este foi apenas o desenrolar dos seus sentimentos, que eu sentindo ou não, correspondia de forma igual. As minhas mãos foram até ao seu peito, não porque adorava tocar-lhe, não porque é algo muito sensual que ele tem, mas porque fazia-me sentir no meu porto de abrigo, me fazia refugiar do mundo, me fazia sentir simplesmente feliz.
O beijo terminou novamente porque o ar começava a escassear, mas nenhum de nós tinha coragem para nos separarmos, para não nos sentirmos próximos e aquele sentimento era puro. O amor não é puro, repito. Amar é uma atitude ingénua, esperamos sempre algo bom mesmo depois de cairmos milhares de vezes, é algo que na vida cometemos digamos, este “erro”, por mais vezes que digamos que não, mas apaixonar-me nunca foi meu objetivo para estes anos de vida. Sentir-me tão surpreendentemente bem ao lado dele não estava nos meus planos, não queria depender de ninguém para me sentir assim, mas com ele sentia. E nem quando beijei o João pela primeira vez depois do tempo nos impedir tantas vezes me soube tão bem, tão genuíno.
Encostei a minha cabeça ao seu peito e ele encostou os lábios á minha cabeça.

-Te quiero tanto mujer! – Disse e embora eu não seja muito entendida de espanhol, deve querer dizer: “amo-te muito mulher”. Mas eu não quero um “te quiero”, eu quero um “amo-te”, dito na minha língua para não deixar sombra de dúvidas! Nunca me apaixonei por palavras, mas por gestos, mas era algo que o João levava a melhor sobre o Ezequiel. Tinha o dom da palavra para comigo, dizia-me quantas vezes fosse preciso que me queria para ele, que era feliz comigo. Embora também tivesse atitudes lutadoras e românticas, acarinhava-me ouvir aquilo. Engoli em seco, sentia-me com ele como nunca me sentira com o João, mas também pode ser o sentimento de isolamento, de me sentir sozinha e que os tinha desiludido.

-Ezequiel. – Confessei com a minha cabeça pousada no seu peito, enquanto ouvia o seu coração bater rápido. – Não quero que te arrependas de nada aconteceu quer no passado, como no presente ou no futuro comigo. Tudo acontece por algum motivo, não quero saber qual, quero é desfrutar do momento. – Disse pela primeira vez afastando-me do seu peito e olhando-o olhos nos olhos. – Apaixonei-me não foi pelos teus arrependimentos, ou das tuas desistências, apaixonei-me pela tua convicção, garra e determinação. Pelo teu espírito lutador. Que me faz feliz como nenhum homem fez. – Confessei um pouco... Reticente. Ele não precisava de saber a verdade toda mas eu disse-lhe sem meias palavras. Diretamente. E vi um sorriso brilhante no seu rosto, um sorriso vitorioso.


-Tu já tomaste a tua decisão, não queres é assumi-la para ti mesma. – Disse ele. – Tens medo de nos perderes, de te magoares. Mas eu esperarei, confiante que um dia te chamarei de minha mulher. – Disse vitorioso.

-Calma contigo meu menino! Roma e Pavia não se fizeram num dia, não faz parte dos meus planos casar-me com alguém, não quero passar a ser a “senhora mulher de alguém” e neste caso a senhora Garay. Não! – As minhas opiniões eram convictas. – Em segundo presunção e água benta cada uma toma a que quer! O João é um forte candidato e teu adversário, nunca me dês por conquistada. – Adverti. Não gosto que me tomem por garantida. E preferi sair daquela conversa cujos rumos eu desconhecia mas tinha medo de me atravessar por caminhos e trilhos e ver-me encurralada porque não sabia o que responder ou fazer. Ainda não sabia o que sentir por cada um deles.

-Nunca pensei conhecer uma mulher como tu! – Confessou dando-me um beijo na testa que só parou na gola da minha camisola, percorrendo o meu pescoço. Encostado ao meu ouvido disse. – Tens cara de menina mas és uma mulher de corpo e desejo! Fazes-me sentir um homem! – Aquilo é que se chamava ir direto ao assunto, sem meios modos ele foi direto ao ponto da questão: sexo. Ele precisava de sexo e eu sentia-me carente, não me ia arrepender, tudo acontece por algum motivo. Talvez a intenção não fosse o sexo, mas sim o que eu lhe fazia sentir enquanto pessoa. Mas os meus pensamentos já estavam bem longe das possíveis primeiras intenções do Ezequiel, centravam-se apenas nas segundas, que eu também as tinha. De primeiras e boas intenções está o inferno cheio, eu queria algo: arrojado. Levei-o para a sala e pedi-lhe para ficar ali. Ele obedeceu-me e sentou-se no sofá de pernas abertas, óptimo estava em posição perfeita para o tomar de assalto, ou seja pôr o meu plano em prática. Fui para o meu quarto e abri os armários. Não queria algo demasiado revelador, nem demasiado provocador, queria algo ousado e simples. Optei por uma lingerie vermelha, haveria algo mais provocador que uma mulher com lingerie vermelha totalmente há disposição de um homem?

Não havia vergonha, ele já me tinha visto com outras roupas interiores, outras vezes até sem ela. Já que ele me tinha apanhado desprivinida, iria vingar-me! Passei os corredores em direção á sala, entrei devagar e logo ele olhou de alto a baixo. Tirando medidas possivelmente, surpreendido abriu até a boca e por fim disse:

-Bem... Tu és mais que direta ao assunto! – Sorri ainda na porta de entrada da sala enquanto nos olhavamos.

-Quis poupar-te trabalho! – Sorri. -Agora vais-me fazer gemer de prazer, gritar eufórica e irritar os meus vizinhos ou vou ter que te violar? – Perguntei sem timidez, ele sabia surpreender-me e eu sabia intimidá-lo, com um “jogo sujo” que não tenho medo de fazer. Ele ia levantar-se mas eu aproximei-me dele e fi-lo continuar sentado no sofá, pousei o dedo indicador sobre os seus lábios. Ele abriu as pernas e eu via pelo seu olhar o desespero, a vontade de cumprir o que lhe tinha dito. Sentei-me de frente para ele e abri as minhas pernas de forma a estar frente a frente a ele. Desejava-o, isso não negava. Ele queria unir os nossos lábios mas eu não deixei, comecei a beijar-lhe desde a testa, passando pelo nariz e um toque rápido pelos lábios, beijei o queixo e segui pelo pescoço. Já perto da gola parei e olhei para ele. Estava morto de desejo, mas não incontrolável. Será que era crime deixá-lo a esse ponto e depois não o saciar? Tirei-lhe a camisola e mandei-a para o chão, tombei-o no sofá para ficar deitado e eu sentada na sua cintura, percorri os seus peitorais com beijos e passei pelos abdominais. O desejo fervilhava mais nele a cada instante, nela o desejo perdia o controlo. Olhou para ele antes do botão das calças, tinha o lábio inferior a ser mordido pelos dentes, talvez de forma a controlar-se. Tirei-lhe as calças vagarosamente e apenas consegui tirar da sua carteira um preservativo que estava na carteira, todos os homens tinham um e ele não era exceção. Senti uma sombra de “calor” mover-me, faltava pouco para me sentir totalmente bem. Gostava de entrar naqueles jogos perigosos e misteriosos com o Ezequiel. Depois das calças estarem no chão, deitei-me sobre o seu corpo e vinguei-me. Beijei os seus lábios de forma dura, rude até. Com demasiado desejo, com muita vontade. Ele agarrou-me com fúria e raiva, com sede de poder, será que um homem em boxers conseguia sentir-se assim? Pegou-me ao colo e deitou-me de barriga para o ar no sofá, fez dos meus lábios os seus, fez-me mais louca com um beijo. Começou a beijar o queixo dela, o pescoço e chegou ao peito. Fez uma pequena “brincadeira” com eles, deliciando-se mutuamente, acarinhando aquela zona do corpo que ele tanto gostava nela. De seguida, já notando que ela estava desejante, voltou para os seus lábios e num gesto rápido afastou o soutien do corpo dela, tombando de seguida no chão. Continuou a brincar com aquela parte do corpo, não sabia o porquê mas deixava-o louco puder pegar naquela forma no peito de uma mulher, já o tinha feito mas com Qeu era diferente e ela sentia o mesmo. Sentia-se bem com o seu corpo e o Ezequiel explorar assim aquela zona, seria útil a Qeu no futuro. Ela por fim, um pouco farta da “falta de atitude”, abriu os olhos e disse com raiva para Ezequiel:

-Põe-te dentro de mim! – Gritou e ele sem meias medidas fez-lhe a vontade. Despiu as poucas roupas que ainda estava no corpo dela enquanto eu fazia o mesmo, sabia bem despi-lo, ver o seu corpo nu em frente ao meu. E tocarem-se, só de o sentir tocar-me já me dava uma sensação totalmente diferente. Era bom vê-lo assim, admirá-lo, mas também sentir que iriamos fazer amor. Não era por o fazermos mas pelo que me fazia sentir, pelo sentimentos que explorava do lado dele. Ele voltou a unir os nossos lábios e aos poucos, devagar, entrava em mim. As minhas mãos foram para as suas costas, bem para perto dos ombros enquanto as suas mãos exploravam as minhas nádegas, as minhas pernas e o meu peito. Ora com beijos, ora com carinhos, queria explorar o meu corpo que já conhecia, mas queria conhecer melhor. As minhas mãos continuavam no mesmo sítio enquanto ele entrava e sai-a dentro de mim mas aumentando o ritmo, e sentia-me bem, sentia orgasmos e ele também, mas não gritava, queria que ele aumentasse o ritmo para só aí sentir a minha satisfação total. Colei os meus lábios ao seu pescoço e chupei um bocado de pele, deixando a minha marca, bem visível no pescoço. E repeti a proeza bem perto do peito, onde ele tinha um colar. O ritmo aumentava e as minhas mão arranhavam aquelas costas. Ele beijava-me os lábios e aumentava o ritmo a cada instante. Senti-me completa. Gritar de prazer, de satisfação. De exclusividade, aquele corpo dele estava apenas entregue a mim e eu era toda dele. Eramos nós e não havia sentimento como esse.
Os nossos corpos só se separam porque estávamos exaustos. E eu não conseguia “descolar” dele, por isso pousei a minha cabeça sobre o seu peito e deixei-me ficar deitada, fazendo círculos sobre o seu peito. Ele beijava-me a cabeça e eu sentia-me completa. Apesar de exaustos devido ao excesso de energias gastos estávamos bem. Até que o meu telemóvel tocou. Não me queria levantar para ir atender, mas o Ezequiel insistiu e eu acabei por ir. Olhei para o ecrã e vi a fotografia de quem me ligava. Era o João.

  

Aquela foto tinha sido tirada apenas para mim, pedi-lhe uma foto e ele enviou-me. Tirou-a só para mim e estava gravado o número dele como “Joãozinho <3”, depois do fim da nossa relação mudei o nome nos meus contactos mas continuava a gostar tanto dele que não cabia no meu peito. Amava-o mas será que o amava mais que o Ezequiel? Amava dois homens e tinha que optar. Engoli em seco e olhei para o Ezequiel, ele percebeu quem era, mesmo sem lhe dizer. Atendi a chamada e disse:

-Olá meu querido. – Olhei para o Ezequiel e viu engolir em seco. – Como estás? – Perguntei a medo.

-Qeu o que tens? Estás... Estranha. – Disse. E eu não sabia o que lhe dizer, não queria ser sincera, mas também não o queria enganar. Tinha de lhe mentir, para seu próprio bem, o que significava que o iria desapontar novamente.

-Fui correr para queimar umas calorias. – Era meio verdade, realmente tinha queimado calorias mas não tinha sido a correr. – E tu como te correu o jogo?

-Bem. Ganhamos e fiz uma assistência para um golo!

-Muitos parabéns! – Confessei sinceramente. – Tu mereces.

-Princesa, só te liguei porque vou agorinha apanhar o avião e queria que fossemos jantar, senão tiveres planos. – Estar com o João, horas depois de estar, daquela forma com o Ezequiel, não estava nos meus planos mas eu queria estar com ele, queria saber qual seria o impacto de estar com ele, depois daquele bom momento, saber o que sentia.

-Claro que posso ir... Jantar contigo. – Olhei para o Ezequiel e vi a desilusão na face dele. – Encontramo-nos onde?

-Vem ter comigo ao aeroporto daqui a duas horas. Agora preciso mesmo de desligar. Beijinhos até logo gosto muito de ti não te esqueças! – Disse e eu não queria responder do mesmo modo, não sabia se o sentia da mesma forma tão forte.

-Adeus... – Hesitei. – Beijinhos. – Desliguei o telemóvel e olhei para o Ezequiel. Notava-o magoado, talvez desiludido comigo. Mas não quis adiantar-me nas palavras para não magoar o Ezequiel.

-Vou-me embora. – Disse o Ezequiel. – Vais jantar com o João e não fico aqui a fazer nada.

-Não digas disparates Ezequiel. Não te dou mais do que vivemos porque não tenho energia para mais, mas olha até lá podemos trocar uns beijinhos e uns carinhos. – Aproximei-me dele com o único objetivo de o beijar.

-Qeu. – Levantou-se e fintou-me. – Eu vou indo é o melhor. – Começou a afastar-se em direção á saída de casa. – Depois falamos. – Mas eu agarrei-o por um braço e disse:

-Adoro-te. – Ele olhou-me admirado. – Te quiero hombre! – Atrevi-me pela primeira vez a falar espanhol. Coloquei as mãos sobre os seus ombros e beijei-o. Ele sorriu e deixou-se encantar. Deu-me mais um beijo e foi-se embora da minha casa. Ficando sozinha com os meus sentimentos, os meus pensamentos e as minhas emoções.
Vesti-me e arrumei o sofá que tinha ficado todo desarrumado, deitei para o lixo o preservativo que tínhamos usado e vesti-me. Vesti outra roupa por cima da interior que estava no meu corpo e fui para o aeroporto.

(No dia seguinte)
O jantar com o João, correu melhor que o esperado, falamos divertidos e animados, éramos melhores amigos e esse sentimento não mudava. Mas eu acabei por beijá-lo, talvez para saber o que sentia quando o beijava, porque hoje tinha sentido um turbilhão de sentimentos quando tive com o Ezequiel. Depois de o beijar, fugi. Fui para minha casa e não lhe disse mais nada, não atendi nem as chamadas, nem respondi ás mensagens. Voltei para minha casa e depois de tomar um banho que me ajudou a acalmar, deitei-me na minha cama, pacificamente. Pela diferença do que tinha sentido a beijá-los, já sabia quem amava mais, embora amasse ambos Já tinha tomado uma decisão e iria dizer-lhes. E estava certa dela. Estava convicta da minha escolha. Iria combinar algo com os dois e dizer-lhes, mas queria encontrar as palavras certas. Tinha medo de os perder, mas amava um dos “meus rapazes”, o outro eu também amava, mas eram sentimentos diferentes. Não queria perder nenhum, mas queria estar especialmente com...

Quem escolherá Qeu?
Será João ou Ezequiel? Será que o medo dela de perder algum terá algum fundamento?

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Capítulo 28 “Está na altura de termos uma conversa honesta, João e Ezequiel”

Levantei-me do sofá com a manta a cobrir as minhas costas e pousei o chocolate quente sobre a pequenina mesa que havia no meio da sala. Estava frente a frente a eles e enquanto um estava do meu lado esquerdo o outro estava do meu lado direito, o Ezequiel do lado esquerdo e o João do lado direito. E eu não sabia para onde olhar. Por isso, inspirei e expirei devagar, fechei os olhos e voltei a abrir, olhei para um e depois para outro. E falei:

-Está na altura de termos uma conversa honesta, João e Ezequiel. – Olhei para quando um quando disse o nome. – Acima de qualquer outro sentimento, emoção, discussão ou qualquer indecisão da minha cabeça ou do coração, quero deixar bem claro que os dois me fazem felizes e não quero perder nenhum. Tenho a certeza que são os dois meus amigos e vivo ou vivi uma história de amor com qualquer um. Mas neste momento eu não sei o que sinto por nenhum. Gosto muito dos dois enquanto amigos, é certo e sei que o sentimento é recíproco, mas sei que qualquer um dos dois nutre um sentimento de amor por mim e embora eu namore com o João, não sei o que sinto pelo Ezequiel. Peço-vos tempo e espaço para tomar uma decisão, esperem por mim e espero que aceitem a minha decisão, que espero não demorar a ser tomada e se algum dos dois desistir de mim, tenho a certeza que o sentimento que dizia sentir não era tão intenso quanto dizia ser. – Olhei para um e para o outro, não sabia o que fazer e esperava qualquer resposta deles por mínima que fosse, nem que fosse um monossílabo qualquer. Mas nenhum dos dois respondeu. Precisava de qualquer ajuda por mais pequena que fosse. O primeiro a reagir iria significar muito, iria ajudar-me, talvez, a ajudar a esclarecer tudo.

-Não te vou dizer que sou o melhor para ti, nem te vou pressionar, quero apenas o melhor para ti e a tua felicidade. – Disse calmamente. – Sim, somos amigos mas tu sabes que eu gosto de ti enquanto mais que isso, preferia ver-te como minha namorada e ficaríamos muito feliz, mas se preferires e sentires que somos só amigos eu também compreendo, sei que apesar de sofrer um pouco, foi o melhor para ti e eu ficarei igualmente bem com o passar do tempo. Amo-te e ficarei a teu lado aconteça o que acontecer. – Disse o Ezequiel e o meu coração bombardeou fortemente, primeiro porque era a resposta ao que dissera antes e porque era a primeira resposta.

-Já fazes um bocadinho parte de mim, mais do que minha namorada, és a minha melhor amiga e por muito mal que nos aconteça, sei que a nossa amizade vai superar isso. Quando tudo começou existia sempre uma força a tentar separar-nos, a tentar derrubar-nos, a impedir que nos beijássemos. – Baixou o olhar e sorriu. – E depois afastamo-nos um pouco devido a tudo o que nos aconteceu... Mas voltamo-nos a cruzar mais uma vez e os sentimentos voltaram com ainda mais força. Pensava que tudo nos encaminhava para um único sentido, juntos. Mas enganei-me, e quero que sejas feliz, apenas do lado de quem achas que é o melhor para ti, da tua felicidade, quer seja enquanto namorado ou amigo. Quero o melhor para ti. – Disse calmamente e fez-me bem relembrar a nossa história. Já fazia alguns meses que nos conhecíamos e embora conheça o João há mais tempo que o Ezequiel, mas eram sentimentos diferentes e histórias diferentes, com o Ezequiel começou como que um ódio enquanto com o João começou com uma amizade, ele era meu melhor amigo e namorado.

-Vocês já são homens, sabem que a decisão não será fácil e pode demorar dias, como meses ou quem sabe, anos. Peço-vos por favor, que respeitem o espaço e o tempo que vou precisar, não me pressionem, porque isso só será pior, para todos. O vosso silêncio será bom para ouvir a minha cabeça e o meu coração. Sei, bem, que devo seguir o que o meu coração me diz, mas não é tão bonito nem fácil quanto parece. Tenho de ouvir a minha cabeça para não magoar ninguém, apesar de ser quase impossível, tentarei não magoar ninguém, não vos quero desiludir. Mas seja qual for a minha decisão, continuarei a gostar de vocês, muito. Mas agora vou para casa que depois da animação do dia de hoje, preciso de descanso.

-Queres boleia para casa? – Perguntou o até então meu namorado.

-Tenho que ir para Lisboa, por isso não me importo de a deixar em casa. – Disse o Ezequiel.

-Por mim tanto faz. – Disse. – Não quero causar incómodo a nenhum.

-Então eu levo-a. – Concluiu o Ezequiel.

Dei a mão ao João e levei-o para um sítio mais sozinho, ele necessitava de uma palavra mais íntima e pessoal. Afinal, e apesar de tudo, era meu melhor amigo e namorado.

-João, devia-te ter explicado tudo antes de começarmos a namorar. Tu merecias uma explicação e eu não te dei, por isso e apesar de teres sido apanhado desprevinido eu conto. Nós... – Fiz uma breve pausa. - Afastamo-nos e eu conheci o Ezequiel. – Não conseguia decifrar pelas suas expressões o que é que ele sentia. -No início demo-nos muito mal, achava-o super engatatão mas acabei por cair nos braços dele. Envolvemo-nos. Mais tarde começamos a namorar, mas eu acabei com ele, porque não confiava nele. Discutimos e eu dei-lhe um golpe baixo, acertei-lhe onde nenhum homem queria. – Engoli em seco. - Nem amigos conseguiamos ficar e eu descobri que estava grávida. Mas tu reapareceste na minha vida. – Sorri com vontade, feliz do que me lembrava. – E apesar de eu estar reticente tu fizeste-me crer em ti, em nós. Fizeste-me e fazes-me feliz, fazes-me sentir completa. Mas com o Ezequiel, ouve o susto da gravidez, mas que não passou disso mesmo, um susto. Mas o meu coração imaginou o nosso futuro, não te quero magoar. Mas eu já me imaginava com o Ezequiel, a cuidarmos do nosso menino. Nós vimos uma ecografia, nós vimos um filho que não tínhamos. – Baixei a cabeça, desiludida, porque apesar de não pensado, um bebé é sempre importante para a família, como para quem, por outros laços está ligado ao pequeno. – Imaginei o batizado, e tu. Eras o padrinho. – Sorrimos. – Já tinha pensado em nomes. Se fosse um menino gostava que se chamasse Tomás e se fosse menina seria a Letícia. São os dois meus amigos e eu não duvido que vos amo, não duvido que o meu amor por vocês está presente, bem vivo e forte no meu coração, mas eu tenho que optar. Tenho de perceber quem eu amo mais e com quem serei mais feliz. E quem ficará meu amigo, ou se prefiro ficar amiga de ambos e deixar para trás, qualquer outro sentimento de amor. – Confessei. – Quanto á nossa relação, acho melhor darmos um tempo, na minha opinião é o melhor. Mas tu é que sabes, se preferes acabar ou não. – Ele virou-me as costas. Pensei que ele me respondesse mas ele ficou sem resposta e eu não gostava disso, precisava de palavras, não precisava de um silêncio, que traduzido, continuava sem significar nada.

-Desiludiste-me e magoaste-me. – Confessou baixo e eu tive dificuldades em ouvir. – Esperava que me amasses, que me desses o teu ser e te entregasses a mim. – Continuou levantado a voz mas continuava a ter dificuldades em ouvir. – Como eu me entreguei a ti. Esperava que pusesses tudo atrás das costas para seres a minha namorada e melhor amiga. Que pensasses em nós e me apoiasses. – Continuava com a cabeça cabisbaixa. – Mas não conseguiste ultrapassar o teu passado. – Fez uma breve pausa, apenas o suficiente para respirar fundo. – E provaste-me que não gostas de mim, como dizes. Porque bastou eu afastar-me, para caíres nos braços do Ezequiel. Bastou. – Olhei para ele e vi os seus olhos cheios de raiva, mas também com muita vontade de chorar, magoado. – E o que mais me magoa, foi que não me contaste nada. Se tu fosses minha amiga contavas, podia-me magoar, mas magoava-me muito menos que me tivesses contado antes. Esperaste que começássemos a namorar para me contares que estavas grávida. A base para uma boa relação é a confiança e tu és minha melhor amiga e eu pensava que era o teu. Iludi-me, mas o meu sentimento continua igual. Preciso é de tempo e espaço para pensar e digerir tudo. Desapontaste-me tanto Qeu. – Fiquei com as lágrimas quase a cair sobre o meu rosto. Não queria que ele pensasse isto de mim. Não queria magoá-lo, mas a tentar melhorar tudo, acabei por piorar tudo. Por estragar o que de bom tínhamos. – Por isso acho melhor acabarmos. Depois de tomares uma decisão sobre qual de nós, tu realmente amas, falamos. Até lá, temos espaço e tempo para pôr a cabeça em ordem. Desculpa. – Virou costas e fugiu dali. E eu fiquei petrificada. Não sabia se havia de chorar, de gritar, de me encher de fúria. Apenas sabia que não sabia o que fazer. Apenas consegui ficar boquiaberta e vê-lo sair. Sem ter tempo de lhe responder, ou pensar no que fazer. Podia tê-lo agarrado, podia tê-lo impedido de ir embora, podia ter esclarecido tudo. Mas optei por ser uma inútil e ao não responder, assumir que tudo o que dizia era verdade.

Mas não ia chorar, não ia dar a minha parte fraca. Não. Ele podia merecer que eu chorasse por o ter magoado e desiludido mas eu não ia chorar, não ia deixar que soubessem que estava a sofrer. Por isso, aproximei-me do Ezequiel e pedi para nos irmos embora. Fomos até ao carro, sem nunca abrir a boca, ele sabia que algo não estava bem mas não tentou que eu desabafasse e sinceramente não queria. Ou talvez quisesse, mas não me sentia bem a fazê-lo e não fazia bem ouvi-lo. Já perto das portagens, já próximos de atravessar a Ponte 25 de Abril, o Ezequiel diz:

-Qeu, podia dizer-te que se quiseres podes falar comigo e desabafar, que só te fazia bem, que somos amigos e iria escutar-te e aconselhar-te, mas eu estou no meio deste problema. Não me consigo separar e ver este problema do lado de fora, eu amo-te e o amor supera qualquer sentimento de amizade. Não vou desistir de ti, quer seja enquanto amigo ou namorado. Tu fazes-me feliz. – Sorri. Podia ter desiludido o João, mas não tinha desiludido o Ezequiel, e ele não ia desistir de mim. A mão dele estava sobre as mudanças do carro e eu pousei sobre ela e disse:

-Obrigada Ezequiel. Por tudo! – Sorrimos. – Desculpa pelo golpe que te dei, por te ter posto no hospital, por ter ferido os teus sentimentos e por ter acabado a nossa relação. Desculpa tudo o que fiz.

-Qeu, claro que não te vou dizer que compreendo o que fizeste e desculpo, mas é a tua maneira de ser, talvez um dia mudes e sei que se algum dia voltarmos, tu vais tentar mudar e eu te ajudarei.

Não consegui responder, apenas engoli em seco. O único som que se ouvia no carro era do rádio, onde se ouvia músicas, umas conhecia, outras não e diziam-me mais que outras. E era bom ouvir músicas em vez de palavras, descreviam tanto os bons momentos como os maus, descrevia, se fosse preciso toda uma vida. E uma música de um cantor espanhol que adorava e cantava bem, Pablo Alborán, não podia ter vindo em melhor altura. Era incrível como tinha acabado uma relação há pouco mas não pensava muito nisso, mas sim, no facto de estar sozinha com o Ezequiel.

Si alguna vez preguntas el por que (Se alguma vez perguntares o porquê)
No sabré decirte la razón (Não saberei dizer-te a razão)
Yo no la sé (Eu não a sei)
Por eso y más (Por isso e muito mais)
Perdóname (Perdoa-me)

Si alguna vez maldicen nuestro amor (Se alguma vez maldizeres o nosso amor)
Comprenderé tu corazón (Compreenderei o teu coração)
Tú no me entenderás (Tu não entenderás)
Por eso y más (E por isso e muito mais)
Perdóname (Perdoa-me)

Ni una sola palabra más (Nem uma palavra mais)
No más besos al alba (Nem mais beijos pela manhã)
Ni una sola caricia habrá (Nem uma única carícia haverá)
Esto se acaba aquí (Isto acaba aqui)
No hay manera ni forma (Não há maneira, nem forma)
De decir que sí (De dizer que sim)

Ni una sola palabra más (Nem uma palavra mais)
No mas besos al alba (Nem mais beijos pela manhã)
Ni una sola caricia habrá (Nem uma única carícia haverá)
Esto se acaba aquí (Isto acaba aqui)
No hay manera ni forma (Não há maneira, nem forma)
De decir que sí (De dizer que sim)

Si alguna vez (Se alguma vez)
Creíste que por ti (Acreditaste que por ti)
O por tu culpa me marché (Ou por tua culpa me fui)
No fuiste tú (Não foste tu)
Por eso y más (Por isso e muito mais)
Perdóname (Perdoa-me)

Si alguna vez te hice sonreír (Se alguma vez te fiz sorrir)
Creístes poco a poco en mi (Acreditaste pouco a pouco em mim)
Fui yo lo sé (Fui eu, eu sei)
Por eso y más (Por isso e muito mais)
Perdóname (Perdoa-me)

Ni una sola palabra más (Nem mais uma palavra)
No más besos al alba (Nem mais beijos pela manhã)
Ni una sola caricia habrá (Nem uma única carícia haverá)
Esto se acaba aquí (Isto acaba aqui)
No hay manera ni forma (Não há maneira, nem forma)
De decir que sí (De dizer que sim)

Ni una sola palabra más (Nem mais uma palavra)
No más besos al alba (Nem mais beijos pela manhã)
Ni una sola caricia habrá (Nem mais uma carícia haverá)
Esto se acaba aquí (Isto acaba aqui)
No hay manera ni forma (Não há maneira, nem forma)
De decir que sí (De dizer que sim)

Siento volverte loca (Sinto-me louco)
Darte el veneno de mi boca (Dar-te o veneno da minha boca)
Siento tener que irme así (Sinto por ter, que me ir assim)
Sin decirte adiós (Sem dizer adeus)

Siento volverte loca (Sinto-me louco)
Darte el veneno de mi boca (Dar-te o veneno da minha boca)
Siento tener que irme así (Sinto por ter, que me ir assim)
Sin decirte adiós (Sem dizer adeus)

Laralalalaralalarala
Laralaalala
Lalalalara

Ni una sola palabra más (Nem mais uma palavra)
No mas besos al alba (Nem mais beijos pela manhã)
Ni una sola caricia habrá (Nem uma carícia haverá)
Esto se acaba aquí (Isto acaba aqui)
No hay manera ni forma (Não há maneira, nem forma)
De decir que sí (De dizer que sim)

Ni una sola palabra más (Nem mais beijos pela manhã)
No mas besos al alba (Nem mais beijos pela manhã)
Ni una sola caricia habrá (Nem uma carícia haverá)
Esto se acaba aquí (Isto acaba aqui)
No hay manera ni forma (Não há maneira, nem forma)
De decir que sí (De dizer que sim)



O Ezequiel cantou aquela música totalmente em espanhol, num espanhol perfeito que me fez suspirar. Soube-me bem ouvi-lo cantar. Gostava do cantor, da língua, gostava... Do Ezequiel. Conhecia muito bem o cantor, mas não aquela música e conhecê-la com aqueles dois homens a cantar foi, especialmente bom. Aquela letra relacionava-se com o fim da minha relação com o João, mas também com o Ezequiel. Custou-me ouvir aquilo e não chorar, mas engoli em seco, evitei as lágrimas. Preferi ouvir e sentir o silêncio. Foi difícil não confessar aquilo que sentia, já estava habituada e era de mim guardar o meu sofrimento mas tinha que me expressar. Não estava à espera que o João acabasse a nossa relação, eu gostava dele.
Foi já perto de minha casa, que deixei cair duas lágrimas teimosas. Seguidas de imensas lágrimas, de medo, de raiva, de tristeza, mas acima de tudo desilusão. Estava desiludida com o João, muito, porque não esperava isto dele, mas principalmente comigo mesma. Não devia ter feito nada para magoar nenhum deles, corria o risco de perder ambos por um ato de puro. Egoísmo.

Baixei a cabeça e pousei sobre a palma das minhas mãos, e os cotovelos pousaram sobre as minhas pernas. Não queria que ele visse as lágrimas a escorrer pela minha face, nem que sentisse a minha respiração ofegante. Não queria que ele dissesse nada, apenas que me deixasse acalmar, que pousasse a mão sobre o meu ombro e não dissesse nada. Estacionou o carro, sem se aperceber que chorava. Reparou que eu chorava. Saiu do banco e segundos depois, senti a porta ao meu lado abrir. Pousou a mão sobre o meu ombro e disse:

-Qeu, fala comigo. Explica-me aquilo que sentes, o que não sentes, o que pensas. Fala comigo, se isso te ajudar. – Levantei a cabeça e pela primeira vez naquele dia cheio de emoções, senti-me amada, quando ele me olhou olhos nos olhos. O meu primeiro impulso foi beijá-lo, para me sentir ainda melhor, mas consegui segurá-lo. Limpei as lágrimas e disse:

-O João acabou tudo comigo. – Disse de uma só vez, talvez se assim fosse me custasse menos a digeri-lo. – Eu amo-o. E por isso estou a sofrer, porque eu amo-vos e desiludi-o, e desiludi-me a mim mesma. – Deixei cair mais duas lágrimas mas ele rapidamente limpou-me com os dedos polegares.

-Tudo acontece por algum motivo. – Disse calmamente. – Talvez assim tu entendas quem tu amas mais e percebas que nos magoaste aos dois, mas iludiste-te. Existem coisas que tu não consegues controlar, coisas que te ultrapassam e os sentimentos, não mandas neles. – Sorriu e continuava com o olhar fixo em mim. – Tu só podes amar e querer ter ao teu lado um.

-Neste momento quero-te a ti. – Disse, nada convicta do que dizia. Ele olhou-me sorriu e fomos aproximando os nossos lábios cada vez mais. Ele fez com que os nossos lábios se tocassem, mas esperou que eu retribuísse para aumentar o ritmo do beijo. Que só terminou quando o ar nos escasseava. Olhamo-nos depois de separarmos os nossos lábios e eu fugi de perto dele. Estava a enganar-nos. A iludir, eu não sabia o que queria, porque motivo lhe tinha dito aquilo e retribuído o beijo? Soube-me bem, senti-me nas nuvens, feliz. Mas podia não significar nada, podia tê-lo usado para esquecer por segundos, o João. E consegui, mas não se podia repetir.

(Passado alguns dias)

Nos últimos quatro dias tenho falado com o João e já estive com ele também, falamos enquanto amigos. Pusemos qualquer ódio ou recentimento e concentramo-nos nos bom sentimentos que nutríamos. Ele precisou de falar, de desabafar, de se sentir melhor e falar com um amigo. E eu não deixava de ser sua amiga, a sua melhor amiga. Soube-me bem falar com ele, ouvir o seu desabafo e ele ouvir o meu. Fez-me sentir que ele era realmente o meu melhor amigo. Não me pressionou para saber se já tinha tomado uma decisão, não me pressionou para nada. Ouve um momento mais constragedor, que ele causou, estivemos a milímetros de um beijo e eu quis ainda mais juntar os meus lábios mas ele fugiu, afirmando que não me queria pressionar. E soube-me bem, saber que apesar dele gostar de mim, não me pressionava, queria apenas a minha felicidade, podia magoá-lo mas ele estaria do meu lado.
Estava sozinha em casa, numa terça-feira á tarde e ontem jogou o Benfica, o que significa que o Ezequiel hoje está de folga, mais precisamente em casa. O João está fora de Lisboa, foi jogar á Madeira o que significava que não podia estar com ele, embora me sentisse sozinha. Ouvi a campainha tocar e não estava á espera de ninguém, decidi abrir a porta embora não esperasse ninguém. E deparei-me com o Ezequiel, ofegante. Tinha corrido bastante, conhecia-o, pouco mas sabia esta pequena particularidade dele. Olhou para mim e disse.

O que terá dito Ezequiel?
E porque terá corrido para estar com Qeu? Quem é que ela escolherá?