Eu queria dizer-lhe exatamente o que sentia, mas eu não sabia bem o
que sentia, mas sabia exatamente o que pensar, sempre me disseram para pensar
com o coração e não com a cabeça, mas eu aprendi que devia pensar com esta,
para evitar sofrer. Queria apenas o melhor para o Ezequiel, queria que ele
fosse feliz, ele merecia isso por tudo aquilo que era e por tudo o que vivi ao
lado dele, eu gostava que ele encontrasse alguém que o amasse e que o fizesse
feliz, alguém que o merecesse, eu gostava e desejava que ele encontrasse alguém
como eu encontrei o João, que me faça feliz. E eu sabia que eu nunca era pessoa
para o Ezequiel, como não era para o João, mas se ele lutara por mim e
gostávamos um do outro porque não tentar?
Respirei fundo e comecei a chamada… Um toque, dois toques, três,
quatro e cinco. A cada um eu sentia-me a ficar mais nervosa, parecia que me
faltavam as palavras, o que achei uma parvoíce. Nós eramos amigos porque razão
haveria de ficar assim? Eu não o queria magoar, queria o melhor para ele, que
ele fosse feliz com os que ama e comigo ele nunca seria feliz. Não sou
previsível, muitas vezes tomo atitudes que nem eu as entendo e o Ezequiel
merecia alguém mais maturo e eu sentia que não a tinha, ele merecia alguém
melhor. Além do mais eu estou apaixonada pelo João, e queria dizê-lo mas ao
mesmo tempo não, queria que o Ezequiel soubesse que o melhor para ele era
esquecer-me mas não o queria magoar. Mas como faria isto? Perdida assim nem
entendi que já tinha chegado ao correio de voz, por isso decidi respirar fundo
e deixar a minha mensagem:
“-Ezequiel… - Respirei
fundo. – Não sei como te dizer isto mas
aqui vai. – Fechei os olhos e imaginei que estava a conversar diretamente
com ele, mas sem o olhar diretamente naqueles olhos e naquela barba extremamente
atraentes e que me iam tirar toda a vontade de falar com ele. Concentra-te
Raquel! – Ontem não tive a atitude
correta, devia ter-te respondido como merecias, mas não o fiz. Foi uma atitude
infantil da minha parte. – Abri os olhos. – Desculpa, tu não merecias. Mas eu também não te mereço, tu mereces
alguém previsível, alguém que te dê tudo o que tens direito e eu nunca te
darei, tu és demasiado para mim. Sei que não devia estar a deixar este recado
idiota no teu correio de voz que provavelmente nem ouvirás mas pelo menos
tentei. Vou dar-te um conselho de amiga, esquece-me e procura alguém que
realmente te mereça e que te faça feliz, como eu nunca faria. Mas não é
conversa para se ter ao telemóvel, quando puderes liga-me ou assim para
combinarmos qualquer coisa e falarmos os dois. Beijinhos. – Desliguei e a
chamada de voz foi enviada.
É estranho tudo aquilo que me está a acontecer, eu não merecia que o
João e o Ezequiel lutassem por mim, era estranho tudo o que vivia na pele. Vivi
uma história com o Ezequiel, não posso negar, e foi uma história intensa mas
deu uma volta enorme. Começamos por nos conhecer e envolver, depois começamos a
namorar e acabamos, dei-lhe um “golpe baixo” e acabei por “descobrir a
gravidez”, isto tudo em alguns meses… Parece que saltamos muitas etapas em
pouco tempo. Depois odiamo-nos e ele aceitou a custo o nosso filho, depois
descobrimos que não havia bebé e eu comecei a namorar com o João (até a falar
do Ezequiel o meu namorado não me sai da cabeça!) e eu e o Ezequiel tornamo-nos
amigos, mas ele decidiu ligar-me e confessar que me ama… Eu nunca tinha ouvido
da boca de nenhum homem que me amava, nem da boca do pai do Rodrigo, a primeira
pessoa de quem o ouvi foi do Ezequiel e isso marcou-me.
Acabei por passear pelo centro comercial e passear, aproveitei para
ver algumas coisas que as lojas tinham, consegui distrair-me, ou melhor não
pensar neles durante um bocadinho mas sempre que me lembrava agarrava no
telemóvel. Tanto para ver se o Ezequiel já tinha dado sinais de vida ou se o João
já estava despachado. A minha vontade era pegar num táxi e ir ter com o
Ezequiel, saber o que ele achava, pedir-lhe desculpa, fazer qualquer coisa que
o fizesse sentir melhor, podia até ter uma atitude que depois me fizesse
arrepender mais tarde, fosse uma atitude má mas era uma atitude, mais ou menos
rebelde, mais ou menos parva. Ou então, para ver se o João, já me tinha ligado
para falarmos, para estarmos juntos e eu lhe dar os parabéns. Para o animar,
não lhe iria dizer o que atravessava, nem o que ia no meu pensamento, não lhe
iria contar nada do Ezequiel. Ficaria apenas comigo este pequeno segredo até
ele ficar bem, não queria arranjar problemas, até porque ele os tinha bem
melhores. E não ia faltar no dia de hoje,
ele precisava de mim e eu não iria falhar, como falhei com o Ezequiel.
Acabei por ir ao twitter e lembrei-me do que o Ezequiel tinha
publicado na noite anterior, e acabei por publicar também, em forma de
indireta, ao que se passava na nossa vida.
"Quando não
sabes o que pensar ou o que sentir, aposta no que sabes.. Ou no que não
sabes!"
Não sabia se o Ezequiel entendia que aquela mensagem era para ele, mas
difícil era não entender. Eu sabia que o João não seguia o meu twitter, e
gostava que assim fosse, tinha alguma liberdade, sem ter de me justificar a
ninguém. Aliás todas as pessoas relacionadas com aquela rede social, nenhuma
delas eu conhecia pessoalmente, ou melhor fazia parte da minha vida. Exceto o
Ezequiel. Ele entretanto também tinha publicado um tweet, quem diria que num
curto espaço de tempo tínhamos publicado dois pensamentos semelhantes na mesma
rede social.
"É cómico como
o amor consegue ser caricato... A cabeça está numa pessoa e o coração noutra. E
agora?!"
Será que ele se estava a referir a mim?! É verdade que eu não sei o que
pensar, nem o que sentir. Eu gosto do João, eu namoro com ele, sinto-me bem ao
lado dele. Sou feliz ao lado dele. Não quero abdicar dele na minha vida, não
quero que ele deixe de ser meu namorado, estou bem ao lado dele. Além do mais
eu já conhecia o João antes de conhecer o Ezequiel, já tínhamos uma pequenina
história, é nossa e ainda podemos escrever muito mais. Eu já imaginei o nosso
futuro, casados e com filhos. Duas crianças, um menino e uma menina, cada um
com o nome do falecido avô. Eu imaginei e senti coisas com o João que nunca
tinha sentido. Mas o Ezequiel... É ele mesmo. Temos uma história caricata e
conheci-o numa altura em que não havia o mínimo de planos para o conhecer, a
mística da gravidez, a gravidade da situação em que o pus, o nosso (amor) que
se transformou em ódio, que se transformou em amizade. Não posso ter o coração
baralhado, já não sou uma adolescente típica de 14/15 anos confusa quanto ao
que sente e a dois rapazes. Não, eu tenho 18 anos, normalmente é o fim da
adolescência e o inicio da idade adulta, devia ser a altura das certezas e das
decisões. Como poderia gostar de alguém, de namorar com essa pessoa e mesmo
assim não saber o que sentir em relação a outra? Os sentimentos deviam ser
claros, devíamos saber exatamente o que sentir, o nosso coração devia dizê-lo
de forma clara e simples, e se nos deixasse alguma dúvida, devíamos consultar a
nossa cabeça, ela devia ser a mais simples, a solucionadora dos nossos
problemas. Mas até aqui tenho azar, porque o meu coração não é claro, este
diz-me que tenho duas histórias.. Com os dois, completamente diferentes. E
dizia-me que eu gostava dos dois, mas é possível gostar de dois rapazes ao
mesmo tempo? A minha cabeça dizia que eu era feliz ao lado do João, que deveria
esquecer o Ezequiel, porque é com o João que estou bem e feliz. Distraída com
os pensamentos mais complicados que há memória na história da minha cabeça e
coração quase não ouvia o toque do telemóvel. Esperava que fosse o Ezequiel a combinar o nosso café, mas assim
que olhei para o ecrã senti alguma desilusão... Era o João. Eu não devia sentir
isto, eu devia estar feliz só de pensar nele. Depois de respirar fundo, acabei
por clicar no botão verde e atender a chamada.
-Olá príncipe! – Disse eu,
fingindo-me de entusiasmada. Eu queria estar com ele e animá-lo, queria tê-lo
ao meu lado mas tinha medo que ele entende-se que algo não estava bem. – Então onde estás?
-Estás estranha Qeu
e não me mintas porque sei que algo não está bem, eu conheço-te. Estou a pegar
no carro e vou ter contigo á porta principal do Colombo daqui a 5 minuto sim? –
Disse o
João. Bolas! Ele entendeu que algo se passava até depois de eu tentar que ele
não percebesse que algo não estava bem.
-Sim... Realmente algo não está bem. – Disse calmamente.
– Estou preocupada contigo. E só fico
bem depois de saber que estás minimamente bem. – Eu conhecia-o e ele a mim
por isso percebi que sorria.
-Nós os dois somos
um só. – Disse e
eu senti o meu coração bater ferozmente, ainda ficava com um nervoso miudinho
sempre que sabia que ia estar com ele. –
Vá agora vou desligar para fazer-me a caminho. Beijinhos gosto muito, muito de
ti. – Não gostava de responder eu também, mas não me sentia á vontade de
responder que também gostava muito dele, não depois de tantas dúvidas nesta
cabeça e coração por isso optei por algo que não era vulgar em mim.
-Beijinhos. Eu
também! – E desliguei
a chamada sem lhe dar tempo de muita resposta. Eu faria tudo para ele não
entender que algo estava diferente em mim, mas sei que ele iria desconfiar,
porque existe palavras que inevitavelmente ele ira compreender que não eram
comuns em mim e que as diria. Mas faria tudo para ele não entender que algo
estava diferente em mim, porque ele não se sente bem e precisa do meu apoio e
tudo o que me envolvia estaria em segundo plano. Eu gostava dele e muito, mas
porque é que o Ezequiel me estava a afetar tanto?!
Acabei por sair do sítio onde estava e ir até junto da porta principal
daquele centro comercial e pouco esperei até que apareceu o João e eu fiquei feliz,
sorri e cumprimentei-o com um beijo sentido, mas nem enquanto o beijava me
conseguia esquecer do telefonema do Ezequiel e do recado que lhe deixara no
telemóvel. Será que ele responderia?! Será que tinha visto e não queria
responder?! Qeu concentra-te, estás com o João, o teu namorado!!
------------------------------------“----------------------------------------------------“-----------------------------------“------------------
Estive um bom bocado com o João e consegui animá-lo, ele estava mesmo
triste, muito desanimado, nunca o tinha visto assim e isso doía-me no coração.
Saber que não podia fazer nada por ele, magoava-me que a vida não fosse justa,
nem um pouco, ele não merecia que a vida fosse tão injusta mas não podia fazer
nada. Mas nunca deixaria de o ter ao meu lado e de eu o ter ao meu lado. Porque
mais do que namorados somos melhores amigos. E isso não há nada que mude.
------------------------------------“----------------------------------------------------“-----------------------------------“-------------------
Mas os momentos de mais ternura, amizade, carinho e ternura, as minhas
tentativas de o animar, tornaram-se em momentos mais românticos, em momentos
mais de cumplicidade, pode parecer errado mas como parava algo que me parecia
tão certo na altura?
Estávamos sentados no sofá, a trocar beijos mais intensos, mais
românticos e sentimentais, talvez estivéssemos assim num momento mais carente e
isso estivesse a fazer com que o momento não fosse conduzido pelo sentimento
correto. O sentimento de perda que ele nutria, o negativismo e a morte que ele
sentia no coração e a minha cabeça confusa em relação a dois rapazes deram
origem a que a mão dele fosse para dentro da minha camisola, e senti um arrepio
atravessar a minha espinha. Mas deixei-me levar pelo momento, eu gostava muito
do João, mas ainda não poderia dizer que o amava e sabia que o iria fazer me
ajudava a clarificar o que sentia. Nenhum dos rapazes merecia que eu lhes
estivesse a fazer isto, mas eu também não o queria, de forma alguma, mas a
culpa disto tudo era da minha cabeça e coração.
As mãos do João começaram a explorar o meu corpo foram seguindo a
direção da minha cara, até que chegaram próximas das minhas mangas, sem nunca
os seus lábios saírem dos meus, até que no momento em que ia despir a minha
camisola, separou os nossos lábios e me olhou olhos nos olhos, como pedindo
autorização para continuar. Eu sorri e fiz sinal com a cabeça para que
continuasse, ele despiu a camisola e de seguida tirei-lhe eu a camisola e pude
olhar para o seu corpo nu, não pude deixar de me sentir bem. Ele era tão belo e
ao mesmo tempo tão meu, o meu corpo não era perfeito, estava construído de uma
forma particular e eu sentia-me confiante, mas como comparar o corpo dele com o
meu? Deitei-me de barriga para cima no sofá e ele colocou-se em cima de mim. Já
o tínhamos feito mas tenho de confessar que não por muitas vezes, ele só o
tinha feito com uma rapariga antes de mim e eu tinha-o feito mas nunca com um
sentimento tão grande e forte a bater no meu coração. E isso era estranho, será
que mudava alguma coisa em relação ao momento em si? Nunca entendi a diferença
que faziam entre sexo e amor... Será que existia? E será que eu iria entender se
haveria realmente ou não?
Comecei a beijar o seu peito em direção ás suas calças, sempre com
beijos românticos e calmos, e ele mordia o lábio para não soltar gemidos de
felicidade ou de prazer. Cheguei perto do botão das calças e sorri, olhei para
ele nos olhos e tirei o botão das calças com os dedos. Depois voltei para os
seus lábios e comecei a beijá-lo e as suas mãos foram de encontro ás minhas
nádegas, segurando-me com força, o que me fazia sentir, realmente desejada.
Depois foi a sua vez de chegar próximo dos meus curtos calções e sem dar conta
os despir. Depois colocou a mão no bolso e abriu a carteira a uma velocidade
que nunca tinha visto, porque seria? Tirou um preservativo e deu-mo. Ele era
responsável, não estava nos nossos planos sermos pais mas nem me tinha lembrado
do mesmo, ainda bem que ele o fez. Despi-lhe as calças e rapidamente acelaramos
as coisas, ele despiu-me a roupa interior e pouco depois despi-lhe eu a dele e
coloquei o preservativo. A partir daquele momento já podíamos fazer o que quer
que fosse que já não haveria arrependimentos no futuro. A probabilidade que eu
tinha de engravidar seria nula e eu não queria correr o risco de (voltar) a
engravidar. Ele deitou-se sobre mim e respirei fundo antes de ele me beijar e
começarmos o momento em si... Que foi intenso, repetido até á exaustão e bom.
Talvez como eu nunca me tinha sentido ao lado de ninguém, será que era porque
estava apaixonada por ele? O sentimento era diferente, e as emoções que me
causaram não tinham comparação possível, talvez descrever o momento não seja o
indicado. Porque nem eu sei fazê-lo, senti-me bem a fazê-lo assumo, podíamos
não tê-lo feito no momento certo nem com os motivos certos mas havia forma de
não me sentir bem a fazer amor? Gostava do João e ajudou-me a esclarecer
algumas dúvidas mas tinha medo dele se arrepender, de não ter sido o que ele
estava á espera... Foi bom, muito bom, excelente, mas será que era uma
reviravolta na nossa relação? Adormecemos depois de gastarmos todas as
energias, ele deitado e eu deitada sobre ele, o seu peitoral servia de almofada
enquanto o meu corpo despido estava ao lado dele.
Adormecemos mas foi durante pouco tempo, porque acordei pouco depois
com um pressentimento horrível, talvez um sonho ou algo diferente. Abri os
olhos, sentei-me no sofá deixando o corpo do João e disse:
-Ezequiel. – Será que era
um pesadelo? Eu não me lembrava, de todo, por muito que me esforçasse não tinha
justificação possível.
Tinha de acabar com aquelas dúvidas e receios, tinha de falar com ele,
mas... Agora? Tinha acabado de fazer amor com o João e ele dormia
profundamente, não o queria acordar por isso decidi levantar-me e procurar a
minha roupa que estava espalhada pelo chão. Vesti-me e fui até á minha mala e
peguei num caderno e numa caneta e escrevi:
“Aconteceu uma emergência e tive de me ir embora, não te quis acordar
por isso deixei-te dormir descansado e escrevi este recado. Depois falamos sobre... Tudo. Tudo o que aconteceu.
Beijinhos adoro-te meu João”
Rasguei a folha do caderno e deixei-a sobre a mesa daquela sala e
fui-me embora daquela casa, não estava arrependida do que tinha feito, eu
gostava e muito do meu namorado, mas tinha de ir falar com o Ezequiel.
Esclarecer as coisas e falar com ele mas o que lhe dizer? Quando estiver com
ele, logo pensarei, sei que deixarei o meu coração falar, mas ele também não
sabe. Neste momento o que sei é que preciso de estar com ele e falar.
Fechei a porta de casa com o mínimo de barulho possível. Chamei um táxi
e fui até casa do Ezequiel, tinha de falar com ele, não amanhã, não quando ele
pudesse mas sim agora. Paguei ao taxista e corri a curta distância entre a
estrada e casa dele e toquei freneticamente á campainha, ele precisava de me
ouvir, eu precisava de o ouvir e de estar com ele. Não sei porquê, não tenho
justificação possível, mas queria e precisava.
Como
correrá a conversa?
Será que
Qeu optará por João ou Ezequiel? Como reagiram os dois?