Apesar
da gravidez do Rodrigo ser vivida ainda no início dos meus 16 anos, a minha
mente e o meu coração já estavam preparados para receber o meu filho, ainda
tenho muito que viver, é verdade, muito que aprender e sentir mas ser mãe ia
mudar tanto a minha vida, os meus sentimentos, e assim que o perdi senti que
precisava de sentir alguma emoção boa, por isso eu cortei-me. Cortei-me sim,
alguns dias depois de perder o meu filho e no dia em que ele nasceu morto, não
conseguia sentir emoção nenhuma, já tinha sofrido tanto na pele, apesar das
minhas atitudes devastadoras eu não merecia tamanho sofrimento, chorei sozinha
durante dias a fio, não comida, não dormia, não fazia mais nada a não ser
chorar, e quando finalmente coloquei na minha cabeça que não podia fazer mais
nada, cortei-me, talvez fosse uma maneira de sentir qualquer emoção, boa ou má
eu queria apenas senti-la. O corte não foi muito profundo, foi bastante
superficial até, ainda hoje está presente na minha vida, no meu dia-a-dia, um
corte no meu pulso, não o demonstro a ninguém, e tapo-o com um relógio, não
quero falar sobre ele, por muito que me memorize não me causa mágoa, não foi
uma descarga de adrenalina foi uma vontade de sentir emoção de uma forma
estranha e tão bizarra.
Sentei-me
na cadeira em frente ao doutor e ele deu-me a fotografia da ecografia, sorri,
agradeci, despedi-me dele e fui novamente até ao quarto onde estava o Nico e a
Rita, mostrei-lhes a imagem da ecografia, ou melhor atirei para cima deles,
sentei-me no sofá e liguei a televisão. A Rita e o Nico aproximaram-se de mim e
a minha prima perguntou:
-Qeu isto é o meu primo? – Acenei
positivamente com a cabeça, ela abraçou-me e estava tão feliz quanto eu, não
tinha dúvidas algumas que ela estaria disponível para mim sempre como esteve
até agora, e o Nico apesar de tudo me iria apoiar, mas até me perdoar ainda
havia muito a percorrer. Esta gravidez já me ensinou tanto de tantas maneiras
diferentes, Deus dá-nos sempre segundas hipóteses temos é de saber
aproveitá-las, segundo se amamos alguém (o que não é o caso com o Ezequiel
sinto um sentimento estranho quando estou com ele que nunca antes vivi mas não
é o caso para o chamar). E ensinou-me que apesar da minha terna idade, aos
poucos vou-me habituando á ideia de ser mãe.
-Parabéns. O puto é lindo vai sair
á mãe! – Abraçou-me, ao início
fiquei reticente mas retribui, se neste momento fosse escolher os padrinhos
para o meu filhote não hesitaria, seria sem dúvida alguma a Rita e o Nicolás,
apesar de tudo aquilo que fiz que eles não compreendem e por vezes nem eu compreendo,
eles… Aceitavam-me! A mim e ao meu filho, e nunca, mas nunca sequer me
perguntaram se tinha engravidado propositadamente, a minha prima eu sei que não
pensaria nisso conhecem-me demasiado bem e saberia que depois do susto com o
meu filho não o faria e o Nicolás que embora não me conheça bem sabe “o que a
casa gasta”.
Sentamo-nos
todos no sofá e adormeci, aliás adormecemos todos durante algumas horas. Quando
acordamos começamos a falar sobre a emoção do filho, mas também sobre a
operação do Ezequiel, eu tentava ser forte mas não conseguia, aguentava ao
máximo as minhas lágrimas mas não dava, a ecografia demonstrava-me a manchinha
mais bela do mundo, o bebé que estava em mim, que precisava de mim e que foi
formado por minha causa e do qual dependia totalmente e incrivelmente de mim,
era heroico a energia que ele me transmitia. A Rita fazia tudo para me animar e
também ao Nico mas os nervos da operação não me deixavam respirar mais do que isso
mesmo… Medo! Até que talvez as hormonas falassem mas tive um desejo, o meu
primeiro desejo, seguido de um vómito. Corri á casa de banho e vomitei mas fiz
sinal que ninguém me seguisse. Limpei-me, arranjei-me e voltei para junto deles
e disse:
-Tenho um desejo. – Ambos sorriram e aí
continuei. – Tenho desejo de comer
amendoins. – O Nico veio a correr ter comigo e abraçou-me, a Rita abraçou-o
por trás, fazíamos assim um abraço de felicidade, um abraço grande e feliz.
Nunca tive desejos de grávida, nem mesmo durante os meses de gestação do
Rodrigo, nem enjoos, estava tudo normal mas estava gravidez mudou muito
comparada com a anterior. Parecia que estavam mais contentes que eu com aquele
desejo e eu não pude sentir-me mais conformada com aquele apoio, mas faltava a
missão mais difícil… Dizer á minha família que estava grávida! Não sei como
diria outra vez á minha mãe que estou grávida, da primeira vez não aceitou bem
e discutimos imenso, mas acabou por aceitar. Mas nessa altura era tudo um pouco
diferente, eu tinha 16 anos há pouco celebrados e estava grávida de 3 meses e
agora tenho mais dois anos de vida e quase menos dois meses de gravidez. Até
que a Rita começou a chorar, limpei-lhe as lágrimas e o Nico deu-lhe a mão, ela
sorriu e eu disse:
-Oh tonta sou eu que estou grávida e com as
hormonas todas trocadas logo devia ser eu a chorar. – Soltei algumas
lágrimas, talvez duas ou três de emoção. – Por
isso vê se paras de chorar que agora alguém tem de ir comprar os meus amendoins.
– Sorrimos todos.
-Vão vocês os dois ao bar do
hospital e se não encontrarem por aqui vão á procura que é o que mais há aí a
venda. Eu vou ficar por aqui á espera que me digam alguma coisa da operação do
pai da criança. – Atirou-nos para
fora do quarto e lá fui com o Nico até ao bar do hospital, que por sorte tinham
amendoins. Embora eu só quisesse um pacote o Nico acabou por comprar 6 pacotes,
dizia que dois eram para ele e para a Rita e deu a desculpa que 4 eram para mim
e para os gémeos… Embora ele dissesse aquelas palavras em tom de brincadeira a
ideia passou-me por segundos pela cabeça. Ainda agora aceitei a ideia de ser
mãe e já pensaria nisso em duplicado. E quem imaginava eu chegar junto á minha
mãe e dizer que estou grávida e em dose dupla ou tripla isto porque quando
falamos em gémeos existe as mais variadas opções!
Voltamos
para o quarto e encontramos a Rita a falar com o médico que mal nos viu disse:
-Ainda bem que apareceram, acabei de falar
com a vossa amiga e estava á vossa espera para dar novidades sobre a operação
do Ezequiel. – Arrumei o pacote nas minhas calças e parei de comer, ou
melhor acabei de comer o que ainda faltava na minha boca. E olhei para o médico
e pedi para continuar, ele assim o fez. –
A operação do Ezequiel correu melhor do que estávamos á espera, bem melhor.
Daqui a uns minutos vem até ao quarto, já passou o tempo de recobro e só agora
avisamos-vos porque informaram-nos que havia uma grávida aqui presente. –
Olhou para mim e sorriu. Foi ele o médico que operou o Ezequiel e também me
acabou até ao médico que me fez a operação. – Daqui a 5 minutos aparece mas tenham cuidado por favor, por enquanto
ele precisa de muita atenção e de pouco esforço. E pedia para por favor só
estar presente um de cada vez na sala. – Mal se vira uma médica trazia-o
deitado na maca, mas não parecia ele, estava sério e não estava pensativo,
estava distante, mas estava consciente. –
Agradecia que dois de vocês fossem até lá fora e que entrassem depois e também
que as visitas tivessem a duração máxima de 10 minutos. Uma enfermeira ficará
durante esse tempo com vocês.
A
minha prima e o namorado saíram do quarto e eu fiquei com o Garay que não
reagia, aproximei-me dele e dei-lhe um beijo na testa e disse:
- Ezequiel já tenho a primeira ecografia do
nosso filho! O petiz ainda só tem 6 semaninhas de gestação mas já tem
parecenças contigo, é um preguiçoso nato! – Ele sorriu e peguei na sua mão,
coloquei-a sobre a minha barriga e coloquei a minha mão sobre a sua. Ficamos um
minuto em silêncio, não queríamos palavras, não queríamos gestos, queríamos
apenas sentir o nosso filho. Separei-nos e fui até ao sofá, trouxe a ecografia
do nosso filho e entreguei-lha. Não conseguia traduzir o que os seus olhos
diziam, não entendia e provoca um nervoso miudinho em mim, talvez uma vergonha
de sentir qualquer emoção, eu não conseguia traduzir mas também não queria
falar, queria que a ecografia falasse por si.
Porque
será que Qeu não consegue traduzir o que as palavras não diziam?
O
que mudará aquela ecografia no futuro dos 3? O que dirá Ezequiel?
Amei :D
ResponderEliminarEu quero os 3 juntos em familia, sim?
Quero mais e rapidinho, pleaseee...
Beijinhos :*
Amei :D
ResponderEliminarEu quero os 3 juntos em familia, sim?
Quero mais e rapidinho, pleaseee...
Beijinhos :*
quero mais...tou super curiosa para ver o proximo...
ResponderEliminarconttinua...