Chegamos à porta de casa dele e eu encostei a minha
cabeça ao seu ombro esquerdo, ele era alto e forte e eu ao seu lado era uma
menina fraca e indefesa, eu sentia-me bem do seu lado. Mas será que isso
significava que estava apaixonada? Duvido seriamente que assim seja, eu não sou
rapariga de me apaixonar facilmente, ou sequer, suficiente para me apaixonar, e
se isso acontecesse apenas me apaixonaria por atitudes, não por palavras e
infelizmente o João só tem falado, de momento, não tem tido atitudes que provem
que goste de mim, ou eu tenho tido atitudes que demonstrem que o sentimento é
recíproco. Mas eu não queria que ele soubesse que me sentia bem ao seu lado,
pelo menos queria continuar a estar ao lado dele e sentir-me bem, talvez também
quisesse entender o que ele também sentia por mim. Cruzamos as mãos e ele abriu
a porta de casa, e decidiu mostrar-me a casa onde vivia. Já tinha entrado em
casa dele, já lá tinha dormido, jantamos e minha casa com a minha mãe e depois
íamos ver um filme na sessão mais tardia do cinema, um filme de terror, mas
quando lá chegamos os bilhetes estavam esgotados por isso decidimos alugar um
filme e irmos ver a casa dele, resultado adormecemos no sofá. No dia seguinte,
acordei ao lado dele, os seus braços ultrapassavam o meu corpo dando um abraço
e eu sentia-me confortável, o seu queixo estava encostado á minha testa e as
minhas mãos no seu peito, tinha adormecido, mas ele também e apenas teve tempo
de me aconchegar a ele e cobrir os nossos corpos com uma manta, e adormecemos
numa posição forte e acolhedora e suficiente para ambos.
Entramos para casa dele e ele fez questão de me
apresentar todas as divisões da casa, sendo que a primeira divisão que me
apresentou foi a única que já conhecia, a sala. Depois apresentou-me os quartos
e as casas de banho e por último a cozinha. Mas esta foi digna de uma
apresentação especial, estava especialmente decorada, com um clima romântico só
para nós dois, afinal ele tinha preparado uma surpresa:
Assim que vi aquela mesa preparada abracei-o e
dei-lhe dois beijos mesmo no canto dos lábios, ele abraçou-me e colocou os
braços sobre o fundo das minhas costas, elevou-me no ar, ficando a 20
centímetros do chão. Ele era forte o suficiente para me segurar, para me
proteger e manter no ar durante o tempo que quisesse, e eu fui fraca, deixei-me
levar pelo seu perfume. Deixei-me levar por ele, tinha necessidade de o ter
junto de mim, não sei se era o meu coração a exigir ou qualquer outra faceta de
mim a falar, talvez o meu lado de mulher de sentir um homem perto de mim, a
beijar-me a amar-me, como gostava que fosse com o Ezequiel… Mas não quero que o
João, seja o “suplente” do Ezequiel, não quero que seja a segunda opção, eu
quero que o João seja o presente, e o futuro, e o Ezequiel foi o passado mas
que está presente no meu presente e no meu futuro, como é possível ter
engravidado? Eu não queria, ele não quer e sinceramente não sei se quero, a
questão certa não é essa. Mas sim se consigo ser uma boa mãe para o meu filho,
não sei se o consigo amar mesmo durante a minha barriga, eu amei e dei tudo ao
meu filho e foi-lhe roubada a vida. E esta magoa ainda afeta a minha vida, a
minha existência, a minha maneira de ser. Será que conseguiria dar-lhe tudo o
que precisava? Tudo o que necessitava? Será que o mimaria ou não o amava o
suficiente? Será que não conseguia dar-lhe tudo o que merecia? Não falo de
amor, falo de bem-essenciais, tenho 18 anos, não acabei o secundário, aliás mal
o comecei, acabei o 9ºano e neste momento não conseguiria arranjar emprego
mesmo se tentasse. Vivo com a minha mãe, isto porque o meu pai nos abandonou
tinha 2 anos e morreu quando tinha 3, a minha mãe vive sozinha comigo e
farta-se de trabalhar, não tinha condições para sustentar mais uma pessoa,
quanto mais um bebé.
Da parte da minha mãe, tenho a minha avó que vive
com a reforma e os meus tios, pais dos meus primos, não são ricos e não queria
submete-los a uma despesa tão larga. Poderia sempre contar com o Ezequiel, mas
ele odeia-me, se pudesse dava tudo para não me ver á frente, a única coisa que
quer de mim é o meu filho, o nosso filho, a única coisa boa que fiz em toda a
minha vida, de resto é tudo porcaria… O meu pai abandonou-me ainda em bebé, a
minha mãe não pode cuidar do meu filho, a minha família paterna vive toda nos
Açores e nunca me visitaram, sempre fui eu a visitá-los, e nunca perguntaram se
precisava deles. Neste momento o João era o meu pilar.
E tudo o que envolvia o João cativava-me, enquanto
jogador, pessoa, homem, amigo e amigo colorido. Enquanto quiçá, meu futuro
namorado e enquanto padrasto do meu filho, porque não tenciono roubar o lugar
de pai do Ezequiel, foi ele que o fez e já disse que assumia a
responsabilidade, será o pai do menino e irá educa-lo, mimá-lo e respeitá-lo,
independentemente de me odiar ou de amar.
O João pousou-me no chão mas as suas mãos
mantiveram-se no fundo das minhas costas, as minhas foram para a parte de trás do
seu pescoço, e fixei os meus olhos nos seus, a luz da cozinha estava acesa e
era forte e encadeava sobre nós. Era apenas eu e ele (e a pequena “semente” que
o Ezequiel pôs no meu ventre). Olhei por meros segundos para os seus lábios que
me davam vontade de os beijar, mas não podia, não iria fazer-lhe aquilo, mas eu
queria tanto! Será que era pecado beijá-lo? Se fosse então eu queria cometê-lo
diversas vezes ao dia, todos os dias, de sempre para sempre! Queria puder estar
com ele, por um lado poder chamá-lo orgulhosamente de meu namorado por outro
lado não queria nada, queria poder ter alguém com quem contar nos meses que se
seguem que se preveem tão complicados e difíceis na minha vida. Ele fechou os
olhos e eu também, decidi aproximar-me dele e senti que a sua cara se aproximava
da minha, afastei as mãos do seu pescoço e coloquei nos ombros, eu também
queria beijá-lo mas os medos apoderavam-se de mim, mas não era razão para não
me deixar levar. Eu espera aquele beijo há demasiado tempo desta vez nada nos iria
impedir, nem telefones, nem músicas, nem ondas do mar, nem arrependimentos,
esperávamos aquilo há demasiado tempo, eu não queria que nada nos
interrompesse. Os lábios deles estavam cada vez mais próximos dos meus e eu
fechei os meus na esperança que apenas o João mos fizesse abrir, mas quando
estamos a poucos centímetros ele abre os lábios e sinto a sua respiração sobre
os meus, era uma respiração quente e calma. Estávamos tão próximos que eu juro
que era só encostar os nossos lábios mas algo nos interrompeu. Era a campainha
a tocar e eu juro que gritei mentalmente, porque é que nos queriam tanto
separar? Abrimos os olhos e trocamos olhares, trinquei o lábio inferior, era um
“tique” nervoso e ansioso que possuía e ele colocou a mão sobre os meus lábios e
eu entreabriu-os, ele fechou os olhos e sussurrou enquanto eu olhava para os
seus lábios que cada vez pareciam mais irresistíveis:
-Desta vez
nada nos vai separar! – Dito isto encostou os seus lábios aos meus num
beijo há muito desejado. Deixei-me levar pelos seus lábios, pela sua atitude,
pelo momento, talvez fosse porque durante segundos deixei de pensar nas razões
aparentes e lógicas da minha cabeça para me concentrar no meu coração.
Concentrei-me no João e no que sentia por ele. Retribui totalmente o beijo,
unidas como uma só movimentavam-se quase ao sabor do vento e da emoção, do
momento e do sentimento. Será que me estava a apaixonar… Mas eu não podia! Não
podia apaixonar-me, não queria apaixonar-me, mas não se escolhe amar, mas escolhe
esquecer-se. Provei até que enfim os doces lábios do João a tocar nos meus,
milhões de emoções turbilhavam no meu coração e cabeça, pela primeira vez eu
estava confusa mas apaixonada, talvez esta fosse a palavra certa, senti um
aperto no coração, e uma felicidade enorme a nascer em mim, eu estava feliz ao
seu lado e não pensava em mais nada, apenas naquele beijo e nele… No meu João!
Ele era meigo com os lábios, era doce, calmo e
apaixonante, posso dizer que tinham um sabor de rebuçado que me dava vontade de
trincar e beijar e nunca me fartar deles! Aquele sabor de rebuçado de morango
deixou de ser um beijo calmo para passar a ser um beijo cheio de desejo, porque
ânsia era o que o nosso primeiro beijo pedia, desta vez nada nos iria separar.
Desta vez era de vez!
Só terminamos o beijo quando o ar já nos escasseava
porque a vontade de acabar era pouca, muito pouca de ambas as partes. Ele
levantou a cabeça e eu encostei a minha cabeça ao seu peito e ele pousou a sua
sobre a minha e beijou-me. Um silêncio apoderou-se daquele “nós”, mas era um
silêncio bom. Não era constrangedor, porque não nos envergonhávamos de nada,
mas era um silêncio de quem apenas queria desfrutar o momento e deixar-se levar
pelas emoções. O seu coração batia descompensado como o meu, eu queria repetir
aquele beijo até mais não puder mas por enquanto quero apenas ficar nos braços
dele e sentir-me segura como nunca estive. Dei-lhe um beijo sobre a camisa e
ele deu-me um beijo na cabeça. Sorri, sentia-me nas nuvens, talvez não
estivesse apaixonada mas sentia algo por ele. Ficamos assim durante minutos, as
minhas mãos agarravam no seu casaco e as suas estavam pousadas nas minhas
ancas, não sei ao certo quando tempo foi, mas fiquei com a sensação que era
minutos. A sua respiração deixou de ficar tão descontrolada como estava depois
daquele beijo, acalmou e eu estava mais calma mas batia ao ritmo do seu. Talvez
começasse a sentir algo por ele, algo mais que a amizade, mas ainda não era
amor. Sussurrei, bem baixo, e senti que não foi o suficiente para ele me ouvir:
-Se tu
soubesses não querias estar comigo… - Referi-me ao meu filho. Eu estava
grávida e não lhe contava por diversas razões. Tinha medo que ele terminasse
comigo a relação com o medo da responsabilidade de eu ser mãe, por vergonha de
namorar com uma pessoa que estava grávida de outro. Por não gostar de mim. E
para quê arriscar em dizer-lhe se posso perder o filho até ao 3º mês de gestação
como perdi o Rodrigo?
-Disseste
alguma coisa linda? – Perguntou ele. E eu aproximei-me ainda mais dele,
abracei-o e deixei-me ficar encostada a ele. A sua voz parecia rouca, talvez
fosse por ser uma voz de homem, uma voz grossa. E eu sentia-me bem com isso,
precisava de atitudes de homem, da voz de um homem, do toque e da segurança de
um homem que apenas um amor me pudesse dar e o meu filho precisava de um pai.
Que eu não lhe podia dar, mas também não queria dar a responsabilidade ao João.
Neste momento sentia-me bem ao lado do João e iria ficar com ele, apenas com
ele, no que dependesse de mim ficaria durante muito tempo agarrada ao João.
-Que a
sobremesa chegou antes do jantar. – Acabou de dizer aquilo e a minha
barriga roncou, realmente a fome começava a afetar-me mas não pensei que a
barriga “fala-se”. Ele olhou-me e eu corei. – Eu avisei gordo.
Deu-me a mão e levou-me até à mesa. Afastou a
cadeira para me sentar e eu assim fiz, ele serviu a comida. Sentou-se á mesa e
eu sentei-me também, não sei se era apenas a vontade de comer, ou do João que
me pegou a fome, mas comi bastante. Talvez mais que ele e tirava qualquer lado
romântico que aquele jantar tivesse. Ele apenas se ria dos “bigodes” que ficava
por causa do sumo (ele quis servir-me uma bebida alcoólica mas eu recusei, em
primeiro lugar não me apetecia em segundo tinha medo que fizesse mal a mim e ao
bebé). Divertimo-nos a falar e a comer, contávamos piadas, brincávamos e
provocávamo-nos mutuamente, riamo-nos muito, mas não abordamos o beijo que
demos antes do jantar. Talvez fosse melhor não falar sobre ele, não era nenhum
erro, eu realmente tinha sentindo-me bem com ele, mas tinha medo de me
apaixonar e no estado em que estou, não quero envolve-lo num problema que não é
seu.
Acabamos de jantar e depois eu fui lavar a loiça,
tínhamos apostado que quem comesse mais assim o fazia, coloquei-me em frente ao
lava-loiça e ia começar a lavar mas ele aparece-me por trás e coloca as mãos
sobre a minha barriga e distribuindo beijinhos entre as minhas bochechas, o meu
pescoço e a minha cabeça e isso desconcentrava-me. Virei-me para ele que
rapidamente me pegou ao colo e me sentou na banca que embora estivesse molhada
ele não se importou. Fiquei de pernas abertas de frente para ele e ele olhou
para mim e sorriu. Eu corei, e ele aproximou-se de mim e beijou-me, um beijo
fugaz e de cortar a respiração. Agarrou em mim e levou-me até à mesa onde
jantamos, a loiça foi empurrada para o chão, onde bateu e estilhaçou-se. O pano
da mesa ficou apenas sobre a mesa, fora nós os dois entre amaços e beijos. A
minha saia subiu aos poucos e enquanto eu estava deitada em cima da mesa, ele
aproximava-se de mim, por um lado não queria fazer mas por outro lado não lhe
conseguia resistir. Eu não queria saber da loiça estilhaçada no chão, não queria
saber do certo ou errado, eu queria saber de mim e dele a fazermos uma fusão
(este eram os termos corretos). Tirei-lhe a camisola e pude pela primeira vez
vislumbrar-me com os seus abdominais, pude completar cada traço do seu corpo,
mas durante pouco tempo porque me entreti novamente com os seus lábios naquela
troca de beijos doces mas nada inocentes. Ele despiu-me a camisola e aquela
troca de carinhos prosseguiu, sem dar conta já estávamos ambos sem roupa no
corpo, estávamos apenas em roupa interior e as mãos dele exploravam as minhas
ancas e as minhas costas, tentando alcançar o soutien mas eu impedi-o, afastei
a sua mão do meu corpo e sai debaixo dele. Não, aquilo não era o correto, não
devia ser feito, não podia. Eu nem namorava com ele, eu não gostava assim tanto
dele, era dar um passo maior que a perna e não precisava de cair mais uma vez
para aprender uma lição. Encostei-me á bancada da cozinha e ele sentou-se numa
das cadeiras daquela mesa. Estávamos apenas em roupa interior mas olhávamo-nos,
eu tentava ao máximo endireitar a minha roupa interior e o meu cabelo, tentava
mais uma vez parecer normal, e ele pousou os cotovelos sobre as pernas e as
mãos sobre as mesmas. Estava ofegante devido ao momento que vivemos, devido aos
beijos e algo mais por isso decidi beber um copo de água. Tirei o copo do
armário e bebi água, depois perguntei ao João que ainda não tinha mudado de
posição:
-Queres água
Johnny? – Talvez estivesse ofegante como eu, mas aquela falta de palavras
estava a assustar-me e sinceramente se ele me voltasse a beijar não sei se
resistia ao “segundo round” por isso rezei a todos os santinhos para que ele
não me olhasse senão era eu mesma que o beijava e não sei até onde ia. Ele
acenou positivamente a cabeça e eu tirei-lhe o copo e deixei-o em cima da mesa.
– Aqui o tens.
-Obrigado.
– Disse friamente.
-Escusas de
ficar assim, a culpa não é tua. – Disse enquanto vestia a minha camisola e
apertava os botões. – Eu é que não
quero. E mais tarde digo-te o porquê.
-Explica-me o
porquê de tanto mistério. – Levantou-se e fez-se dar uns passos atrás e
encostar-me á bancada. – Explica-me o
porquê de não quereres começar uma relação comigo. Explica-me por favor porque
é que estávamos quase a fazer amor e tu de repente afastaste de mim e deixas-me
assim! – Olhou-me e eu fiquei sem reação. Mas foi apenas durante breves
segundos, não ia deixar que ele me deixasse sem resposta, Raquel, Qeu não iria
ficar sem resposta por razão alguma.
-Eu estou a
tentar salvar-te de uma vergonha maior, de uma responsabilidade gigante. Estou
a tentar proteger-te! Foi uma coisa que aconteceu do dia para a noite mas vai
ter influência no resto da minha vida, da nossa vida! – Tinha sido franca e
direta com ele, mais não poderia ser. Não queria dizer-lhe que estava á espera
de um filho que não era seu e se dependesse dele estaria a namorar uma mulher
grávida. – Eu talvez goste de ti, eu não
sei, os meus sentimentos nunca são claros na minha cabeça! Se me tivesses
pedido para namorarmos eu aceitaria mas pedir-te-ia para irmos com calma. E o
que acabamos de fazer ia estragar tudo. Com os 2 únicos homens que me envolvi
assim correu mal, um abandonou-me o outro não me quer ver pintada nem de ouro!
Agora se faz favor veste-te que eu vou fazer o mesmo. – Apanhei a roupa do
chão dele que estava no chão e atirei-a com ela. Também agarrei na minha e
comecei a vestir-me, não queria continuar assim, até porque tinha medo que ele
olhasse para a minha barriga e reparasse embora na minúscula barriguita de
grávida mas que entendesse que algo não estava bem. Ele também começou a
vestir-se. – Limpamos a porcaria que fizemos e depois levas-me a casa e amanhã
com mais calma falamos disto.
-Eu levo-te a
casa e deixa estar que eu quando voltar limpo. Mas pensa bem no que queres
fazer.
-Prometo que
penso descansa!
Fomos até ao carro e ele levou-me até casa. Conduziu
depressa, e o silêncio apoderava aquele carro, nem o rádio estava ligado,
talvez fosse o sentimento de raiva não sei… Estacionou o carro e eu dei a volta
ao carro para me despedir dele, coloquei a cabeça dentro do carro e ele deu-me
um beijinho na bochecha mas eu dei-lhe um beijo nos lábios só para matar a
curiosidade e a saudade. Ele seguiu até casa e estava na hora de falar com a
minha mãe, não sabia o que esperar, mas algo era certo, coisa boa não era!
Como diria à minha mãe que vai ser avó, sendo ela
mãe solteira e tendo apenas 18 anos. E para além disso, estava separada do pai
do meu filho e quase me envolvia com outro homem hoje?! Além disso já perdi um
filho no meu ventre, o que significava que era a minha 2ª gravidez num espaço de
3 anos! Abri a porta de casa e a minha mãe esperava-me sentada no sofá
tranquilamente a ver televisão… Tinha medo da conversa mas iria ser frontal.
-Raquel
precisamos de falar. – Disse a minha mãe. Quando ela me chamava de Raquel
era porque o assunto era sério, demasiado sério.
-Queres falar
sobre a ecografia que encontrei em cima da cama. – Sentei-me ao lado dela
no sofá e pus a minha mão sobre a barriga.
-Queres saber
se estou grávida? Sim, estou mas ainda é muito recente.
-Explica-me
porque é que não tiveste cuidado, porque é que não te precaveste? –
Interrogou-me elevando o tom de voz. E levantando-se do sofá e olhando-me. – Diz-me que ao menos sabes quem é o pai e
que ele sabe. Diz-me que é o João, por favor. Não te chegou o susto com o
Rodrigo? Achas que tenho condições para ter um neto?
Levantei-me do sofá e enfrentei-a, estava na altura
de também lhe responder dignamente:
-Achas mesmo
que eu quis engravidar? Achas que pensei e desejei um filho com 18 anos de
vida? Claro que sei quem é o pai do meu filho, não sou dessas que leva qualquer
um para a cama e fica sabendo que só levei dois e dos dois engravidei e são
meus ex-namorados. O pai do menino sabe e aceitou, vai fazer tudo por ele,
apesar de já não estarmos juntos. Chama-se Ezequiel, para o caso de quereres
saber. O João não é chamado para a história, aliás ele não sabe nem pode saber
deste bebé! E vê lá se te preocupas em pelo menos saber de quanto tempo estou grávida?
Estou de 6 semanas mas obrigado pela preocupação! Descansa que eu e ele estamos
bem. E ainda posso fazer muita coisa por causa desta gravidez. Não vou é tomar
uma decisão precipitada, tenho de pensar em conjunto com o pai do menino.
-Ao menos não
foi como a peça do pai do Rodrigo que te deixou, este foi homenzinho para o
fazer, vai ser homenzinho para o ter e criar. E quando pensavas dizer-me que
estás grávida? Ao menos posso conhecer o pai do meu neto? Como é que tiveste
coragem de estar com o João estando grávida de outro homem? Esperas o quê que
ele descubra que estás grávida quando se começar a notar a barriga?
-Não, e vê lá
se acalmas os pirolitos com um bombardeio de perguntas! Uma coisa de cada vez e
vê se falas baixo que eu estou grávida, não estou surda! Eu ia dizer-te que
estava grávida simplesmente ia esperar pelos 3 meses porque até lá posso muito
bem perder o piolho, o teu neto. Não sei se o pai do meu filho te quer
conhecer, aliás ele mal me quer ver á frente quando mais quem me deu vida. Eu
estive com o João sim mas não foi como estás para aí a pensar, ele quis estar
comigo e eu aceitei. Não estava com ele há muito. E que tem queres ver que só
porque estou grávida tenho que ficar trancada em casa sem socializar? Ele vai
descobrir que estou grávida porque eu quero dizer-lhe, mas quero chegar aos 3
meses.
-Mentaliza-te
que neste momento tu já és mãe. Estando ele cá fora ou lá dentro. E já te
puseste no lugar dele, gostavas de namorar com uma pessoa e só descobres tarde
demais que ela está á espera de um filho… De outro?! Ainda podes decidir o que
vais fazer filha mas eu conheço-te, sei perfeitamente no que depender de ti
terás este filho. Mas tens de ver os prós e os contras.
-Eu ainda não
pensei em nada, mãe, soube há muito pouco tempo que estou grávida. Ainda não
digeri nada. Neste momento só sei que estou grávida e aquela ecografia prova
isso mesmo. Eu ouvi o batimento cardíaco dele mãe! Sabes o quanto isso é
mágico? Achas que esperava ouvir isto tão pouco tempo do Rodrigo? Eu só me
envolvi com ele duas vezes, achas que pensava que engravidava? Mas entendo a
tua preocupação mas neste momento não tens de te importar nem com o João, nem
com o Ezequiel, mas sim com a tua filha e com o teu neto.
-Vais viver
com a família do teu pai nos Açores. Não tenho condições para cuidar deste
neto, a minha família também não tem. Eles lá dão-te tudo o que precisares. E
não há volta a dar Qeu, vais ter de lidar com as consequências das tuas
atitudes.
Que resposta
dará Raquel? Será que vai viver longe de todos?
Que acontecerá á
relação com João? Como reagirá Ezequiel?