sábado, 21 de setembro de 2013

Capítulo 30: “Amo-te El Negro”

O Ezequiel. Quando beijei o Ezequiel, senti um turbilhão de sentimentos, também senti com o João é claro, mas foi completamente diferente. Com o Ezequiel senti as “borboletas no estomâgo”, o coração a palpitar de uma forma única, um sentimento único do seu toque, da sua pele a tocar na minha, nem tudo nele é perfeito, mas tudo o que nos envolve é. Com o João o sentimento é diferente, parece que não sinto de forma tão intensa. Com o Ezequiel é amor, puro. Com o João é diferente, completamente diferente, sinto-me bem ao lado dele mas sinto-me melhor ao lado do Ezequiel. Com o Ezequiel sinto-me bem a falar, a beijá-lo, a estar com ele, com o João sinto-me bem a falar, a desabafar com ele, com os seus abraços mas os beijos dele não mexem tanto com os meus sentimentos como os do Ezequiel. Talvez tenha confundido os sentimentos em relação ao João. Preciso de tempo para digerir tudo, para tomar consciência da minha decisão e anunciá-la. Mas não queria magoar nenhum deles. Queria beijar o Ezequiel e abraçar o João, declaram-me ao Ezequiel e falar com o João. Fui ao twitter, era bom partilhar os meus pensamentos por ali, mas havia limites. Segui-a o Ezequiel e ele a mim, por isso não me podia declarar e dizer que estava apaixonada. Até poderia mas ele perguntava-me por quem e eu não lhe queria dizer. Preferia falar-lhe pessoalmente. Assim que abri dei de contas com um tweet do Ezequiel:

“When you're mine (Quando fores minha)
I'll be generous (Eu serei generoso)
You're irreplacleable (És insubstituível)
Uncollectible (Incolecionável)
Just like fine china (Como uma bela porcelana)

’Cause when you're with me, I can't explain it (Quando estás comigo não sei explicar)
It's just different (É apenas diferente)
We can take it slow (Podemos ir devagar)
Or act like you're my girl (Ou agir Como se fosses minha)
Let's skip the basics” (E saltar as preliminares)” Q


Sempre que ele escrevia uma mensagem e acabava em Q era para mim. Q de Qeu. Por muitas outras justificações que tentasse arranjar aquela era a mais acertada, e cada texto que ele escrevia, enquadrava-se no bocado de história em que nos encontravamos. Era como um código, só nosso. E bem ele não poderia ter escrito estas frases, estavam em inglês e tinham aspas o que só podia significar que ele tinha ido buscar a algum lado. Escrevi a letra no google e cheguei a uma música. Não conheci mas fiquei curiosa e comecei a ouvi-la e a ver a sua tradução.


Aquela música falava não só para mim como para o João, ele sabia que eu ia ler e responder, como fizera a todos os textos que ele me tinha escrito no twitter, todos indiretamente. Ele acabava os tweets com um Q e eu acabava com um N. Se ele punha a inicial da minha alcunha porque razão não punha a inicial da alcunha dele, “El Negro”? Fazia sentido na minha cabeça.
Respondi-lhe:

“Right from the star (Desde o início)
You were a thief, you stole my heart (Foste um ladrão e roubaste o meu coração)
And I, your willing victim (E eu, tua vítima condescendente)
I let you see parts of me (Deixei-te ver partes de mim)
That weren’t all that pretty (Que não eram tão bonitas)
And with every touch (E com cada toque)
You fixed them (Tu consertaste-as)” N


Se ele queria mandar-me uma mensagem direta através de músicas, eu ia dar-lha. Ia dar-lhe esse prazer, de lhe responder e dizer que o nosso amor não estava acabado, nem esquecido, que estava aliás numa excelente fase, que o amor que sentia estava mais forte que nunca, e existia certezas absolutas do que eu sentia, por ele. E pelo João. Por muito que me custasse, o João é meu melhor amigo, sempre o será, mas o Ezequiel é o meu namorado, o meu amor, o homem que já me fez mudar um pouco e continuará a fazê-lo, que me tornará uma melhor mulher e uma melhor pessoa, que vai abrir o coração ao amor e ser feliz. Se tivermos a nossa oportunidade, eu sei que ele me fará feliz. Talvez se fosse tentar uma relação com o João, talvez a relação durasse mais, ele amava-me e eu gostava dele, porque amar não acredito que se ame duas pessoas em simultâneo. A base para uma boa relação é a confiança e a amizade, e eu e ele eramos melhores amigos. Mas eu não gostava dele tanto como ele gosta de mim e não conseguia viver com isso. Quero esquecê-lo, não é por não o amar ou por saber que não seriamos felizes, é para o proteger, é para conseguir ser feliz ao lado do Ezequiel.
Claro que sei que não é fácil ter uma relação, ainda por cima, eu que não tenho um bom historial com relações. Mas sei que o Ezequiel pode-me fazer mudar, tenho é de acreditar nele, tenho de acreditar naquilo que sinto, em nós. Com o João, ele é meu melhor amigo, vou magoá-lo, farei tudo para o evitar, mas nunca é fácil dizeres a alguém que queres na tua vida, alguém que é teu amigo e gosta de ti com todas as forças que não o amas do mesmo modo.
Sai á rua, pouco faltava para a hora de almoço e decidi ligar ao João. Um toque, dois, três e ele não atendia. Continuei em chamada mas ele não atendia e isso deixava-me preocupada. Peguei no carro, que embora tenha prometido a mim mesma que não o faria mais até ter carta e parti em direção a casa do João. Não me lembrava ao certo onde era, porque nunca fiz o caminho sozinha, sempre foi ele a conduzir, mas queria ir á procura dele, liguei-lhe mais duas vezes pelo caminho e não atendia. Começava a ficar preocupada, demasiado, não era de todo normal. Embora tenha andado meio perdida, acabei por ir ter a casa dele, embora não soubesse ao certo qual foi o caminho exato, estacionei mesmo em frente ao prédio onde ele vivia e deparei-me com uma situação inesperada. O João e o Ezequiel, estavam frente a frente, a conversar. Eles não eram propriamente “amigos” e “disputavam-me”. Não sabia se havia de sair do carro e tentar perceber se discutiam ou se tinham uma conversa normal, ou se deixar que tu acontecesse naturalmente e não me meter entre eles. Mas a curiosidade falava mais alto, decidi sair do carro, mas de forma que eles não me vissem. Aproximei-me e deixei-me esconder atrás de uns arbustos, suficientemente perto deles para ouvir o que se passava.

-Eu amo-a Ezequiel. Não sabes o quanto eu a amo e não queria desistir dela, sou o melhor amigo dela e ela a minha, e sei que ela também sente algo por mim. Mas quando ela está contigo é simplesmente... – Fez uma pequena pausa. – Diferente. Eu conheço-a, sei o que ela vai decidir, tu vais ser a escolha dela. – Gelei ao ouvi-lo. Será que ele me conhecia tão bem ao ponto de saber que ele não era a minha escolha? Ou será que eu é que era previsível?

-João, tu és o melhor amigo dela. – Respondeu sereno o Ezequiel. – Ela apaixonou-se por ti primeiro, logo como é óbvio, tu és a escolha dela. Tu dás-lhe os conselhos e apoias-a como eu nunca farei, como ela nunca conseguirá fazer comigo. Amo-a, não nego. Escolha ela quem escolher, temos apenas de prometer que tomaremos bem conta dela. – Respondeu no seu “portunhol” do qual eu já conhecia bem. Era a minha oportunidade de intervir, mas não sabia se o deveria fazer ou não. Por isso decidi manter-me sossegada e nada dizer.

-Ezequiel, posso não ter explicação para muitas coisas da minha vida mas uma coisa eu sei, que ela te vai escolher a ti. – Disse calmamente, com uma calma que me assustava. -Pela maneira como vocês se falam, como se olham, como se tocam. Não penses que não me custa muito dizer-te isto, custa imenso mas estou a fazer o melhor para ela. Vai atrás dela, luta por ela e nunca, mas nunca a deixes baixar os braços ou deixes de lutar por ela. A Qeu é muito especial, é difícil mas tu sabes que é uma rapariga que no fundo só tem medo de ser amada e de amar de volta. – O João conhecia-me melhor do que eu que conhecia a mim própria e gostava de mim ao ponto de sofrer para eu ser feliz e aquilo causava em mim uma sensação estranha no estomâgo, como era possível ele conhecer-me tão bem e adormar-me a este ponto? – Por favor cuida dela, e ama-a, por mim. – Disse enquanto virava a face do Ezequiel, e deitava lágrimas pelos olhos que eu sabia que não conseguia controlar, por muitas palavras que dissesse, correu até ao seu prédio e eu fiquei sem saber o que fazer.
O Ezequiel ficou surpreso a olhar para o percurso que o João tinha feito em direção a sua casa e eu surpresa estava também. Pôs a mão no bolso e procurou o telemóvel, não foi muito difícil encontrá-lo. Digitou um número sem precisar de ir á agenda telefónica, seria então de alguém a quem ele telefonava várias vezes ou alguém que ele gostasse muito. O meu telemóvel tocou. Não, ele não podia estar a ligar para mim... Como o toque estava alto tive de o atender logo que senti que tocava para não ser apanhada.

-Sim? – Respondi baixinho.

-Olá Qeu! – Disse ele. Tive de me afastar para poder falar mais alto e assim ele não entender que estava próxima dele e tinha ouvido a conversa. – Como estás? – Não, Ezequiel! Não comeces com aquelas conversas só para falar, sê direto eu gosto disso!

-Ezequiel não estejas com meias medidas, tu ligaste-me por algum motivo. Tu não ligas só para falar com as pessoas, pelo menos do que eu conheço de ti. Por isso desembucha.

-Realmente tens razão. Quero estar contigo, daqui a uma hora na praia do Seixal valle? – Claro, cada frase tua tinha um toque “espanholado” e aquela não era exceção. Sinceramente não sabia o significado mas respondia sempre de uma forma qualquer, podia ser um disparate mas pelo menos tentava.

-Aquela praiazinha ao pé da estação de barcos e perto do Caixa Futebol Campus né? – Perguntei.

-Sim. Queres que te vá buscar?

-Deixa-te estar, eu vou lá estar não te atrases! – Disse e desliguei a chamada. Ele até falou algo que eu não entendi mesmo pela distância que tinha dele, e sinceramente não dei importância. Esperei que ele fosse até ao carro e se fosse embora, dei algum tempo de intervalo e fui em direção ao Seixal.
Assim que cheguei á praia senti-me bem. Aquele ambiente apaixonava-me, fazia-me sentir bem e feliz, fazia-me sentir ainda mais apaixonada pelo Ezequiel. Amava o João... Mas como amigo. Falaria com ele, mas não agora. Não tinha visto o Ezequiel e decidi fotograr aquela paisagem:


Fui até ao twitter e publiquei:
Aqui sinto-me bem!”

Rapidamente recebi um twitter de resposta. Era do Ezequiel.
E podes sentir-te ainda melhor do meu lado!”

Procurei-o pela praia e não demorei a encontrá-lo. Aproximamo-nos um do outro, um pouco mais rápido do que a andar em passos normais. Ficamos próximos um do outro, mas sem nos tocarmos. Cruzamos olhares e ele pousou as mãos sobre o fundo das minhas costas e eu aproximei-nos, quebrando a curta barreira que nos separava. Pousei as mãos sobre o seu peito e deixamo-nos ficar encostados. Dei um pequeno beijo sobre o seu peito e ele deu-me um beijo sobre a minha cabeça. Ficamos assim durante segundos, mas que me souberam bem. Especialmente bem. Sussurrou-me:

-Te quiero Qeu! – Disse-me de forma a que apenas conseguisse sentir o vento e o Ezequiel a sussurrar-me ao ouvidl. E sabia bem. Não sentia frio, porque o Ezequiel me protegia de qualquer temperatura e de qualquer coisa.

-Amo-te El Negro! – Sussurrei de forma a que ele me conseguisse ouvir também. “El Negro” era a sua alcunha e eu decidi usá-la também.
Olhei para ele e ele para mim e beijamo-nos. Ainda havia muito para conversar mas sabia bem perder-me nos braços dele e sentir que o mar nos acompanhava e embora não falasse era a nossa testemunha que nunca iria revelar nada a ninguém.

Como ficará o amor de Qeu e Ezequiel depois destas declarações?
Será que vão ficar juntos? E João como fica?

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