domingo, 28 de julho de 2013

Capítulo 27: "Eu não acredito que tu só me vejas como um amigo"

A casa dele estava coberta de vedações, árvores, arbustos e tinha um aspeto de uma vivenda moderna, não haveria como saltar e ir diretamente para a porta de casa. Toquei á campainha e respirei fundo, haveria de falar com ele nem que saltasse a porta da vedação e entrasse, nem que a polícia me abalroasse, não tinha deixado o João para estar com o Ezequiel em vão. Por pensar nisso, como será que ele vai reagir quando vir o meu recado? Não o quero magoar, longe disso, simplesmente existem aspetos da minha vida que têm de ser mudados e tratados antes da nossa relação avançar, a minha relação com o Ezequiel precisava de ser esclarecida. Havia algumas coisas que eu já sabia: do João eu era melhor amiga e namorada, o que aumentava o nível da nossa relação, a nossa relação, fosse qual fosse tinha futuro enquanto a minha relação com o Ezequiel era só.. Algo complicado. Combinamos ficar amigos, mas na realidade nenhum de nós desabafa com o outro, eu não tenho coragem de lhe contar o que quer que fosse que se passava com o João, nem com a minha vida familiar, ele tinha problemas maiores que os meus e eu não o queria incomodar, enquanto eu estou ao pé da família da parte da minha mãe, apenas com a minha família paterna nos Açores, ele deve ter a família na Argentina e quanto aos irmãos, não sei se tem, durante as nossas conversas nunca conversamos sobre isso. Como foi possível eu ter namorado com ele sem saber estas coisas... Mínimas? Será que era por egoísmo meu, por egocentrismo? Talvez. Ele sabia, do Rodrigo, sabia que o meu primeiro namorado e pai do bebé que faleceu no meu ventre me tinha abandonado e que neste momento namorava com um colega seu de profissão. Que vivia com a minha mãe e tinha família nos Açores, conhecia a minha prima Rita e sabia tantas outras coisas sobre mim, muito mais intimas e pessoais. E eu dele pouco sabia, sabia algumas coisas pessoais e conhecia-o em termos profissionais porque sempre que chega um jogador ao Benfica, a Qeu trata de fazer uma pesquisa do seu historial futebolístico.
A porta abriu e eu entrei, havia uma espécie de caminho em pedra e eu percorri-o entretida aos saltinhos, confesso que parecia uma menina pequenina, talvez no jardim de infância a pisar apenas as pedras para não pisar o chão e lá cheguei á porta sem olhar. Subi as escadinhas sempre a olhar para o chão e para a originalidade das casas novas, era verdade que quem me visse ia pensar que era a pessoa mais infantil mas sou espontânea, e quem não gosta tem bom remédio, não sente a mesma felicidade que eu! As crianças é que tem razão, os adultos só complicam a vida e agora sinto-me uma adulta muito séria, e tenho de ver a situação como se fosse uma criança. Vou falar calmamente com o Ezequiel, como amigos com calma e depois vou ter com o João e explico tudo. Entretida não percebi e fui contra um corpo, como estava com um pé mal apoiado no chão (graças aos meus “saltinhos”) e cai no chão, batendo com o rabo nas pedras frias e duras, apenas consegui deixar-me dizendo:
-Autch! – Apoiei uma mão no chão para me levantar e senti outra a agarrar-me na outra mão e perguntar:
-Estas bien pequeña? – Aquele espanhol era-me todo familiar e trazia-me á memória recordações de um momento em particular:
(Recordação)
-Cariño, eu não me chamo Q. Chamo-me Ezequiel. Vê lá se mudas o nome na camisola. – voltei-me imediatamente para ele e falei:

-Cariño, oh que raio que tu disseste, estamos em Portugal por isso fala português, diz-se carinho e já recebi elogios mais bonitos que isso mas não de um homem deste calibre. – sorri e olhei-o olhos nos olhos. Depois fiquei séria e falei:
-Quem te disse que é do teu nome o Q?
-Na tua camisola está o número com que jogo no Benfica. Segundo está aí o meu nome bem explícito Garay, estamos em Portugal e o meu nome é argentino, logo não é difícil de adivinhar que sou eu… -Levantou-se e olhou-me olhos nos olhos, respondi:
-O Q é de Qeu, a minha alcunha porque me chamo Raquel…E tens razão esse Garay na camisola é do teu nome. –sorri virei costas e fui embora.
 (Fim de Recordação)
-Mas quantas vezes tenho de te dizer que em Portugal se fala português e não essa tua língua? – Comecei a resmungar entre dentes por instinto. Sinceramente nem tinha pensado no que dissera, simplesmente dissera-o.
-Mas será que o teu feitio nunca modera? – Puxou a minha mão de uma forma tão forte que num instante me levantei e fiquei frente a frente com ele, de corpos colados, olhos nos olhos. Sentia a sua respiração sobre os meus lábios e era extremamente exigente concentrarmente no que quer que fosse com aquela proximidade, o seu perfume entranhava-se nas minhas narinas e seguia caminhos estranhos que faziam o meu coração aumentar e muito o seu ritmo. Mas será que como o meu feitio ele também não mudera a sua forma atraente de ser? Fechei os olhos mas não ia permitir que ele me beijasse, não que não quisesse mas por respeito ao João. E estar com os dois não me ajudava a decidir. – Pelos vistos há coisas que não mudam mesmo! – Encostei a minha cabeça ao seu peito assim não havia como ele me beijar, assim podia fugir dele. Estando próxima dele. Abri os olhos e olhei para o lado, não queria que ele falasse mas insistiu. Ficamos assim durante algum tempo.
Era bom ouvir o seu coração, a sua respiração embater na minha cabeça, sentir o seu perfume entranhar-se em mim, como se por magia. Aquilo que estavamos a fazer não era um erro nem parecia um erro, não estava a trair o João, mas por um lado sentia-me a enganá-lo. Mas se somos amigos e não me sinto a enganá-lo porque não haveriamos de fazer? Era um abraço de amigos! Respirei fundo e deixei-me ficar assim, sentia-me bem. E aquele silência sabia-me ainda melhor.
-Qeu. – Olhei para ele e ele continou. – Queres ir lá para dentro?
-Lá para dentro? – Perguntei confusa apontando para dentro de casa, a porta estava aberta era só dar dois paços e estavamos lá dentro mas mesmo assim estava confusa. Fui apanhada desprevinida.
-Sim. Quero mostrar-te uma coisa. – Olhei-o confusa. Já não estava a entender nada, porque é que ele queria ir para dentro de casa? Deu-me a mão e queria levar-me para dentro de casa mas eu fiz força para não sair do mesmo lugar.
-Não vou contigo lá para dentro não senhor! – Fugi com a minha mão ao seu toque e á sua mão. – Sou fiel ao João e a entrar para dentro da tua casa sei que vamos para caminhos que eu não quero ir! – Eu queria falar com o Ezequiel mas ao mesmo tempo estar longe dele, queria explicar-lhe que gostava do João, que era feliz com ele e por ele não senti ao mesmo amor, mas era mentir. Queria estar perto mas longe.
-Não confias em mim? – Tentava não olhar para ele senão tinha medo de deixar de o ouvir perdida em tamanha beleza, por isso olhava para a sua barba, para as suas bocechas (embora tapadas pela barba), para o seu nariz, ou testa, conhecia todas aquelas feições, os lábios conhecia os recantos, até bastante mais do que estava á espera! O que conhecia menos na sua face eram os olhos, porque fintava-o sempre.
-Confio, mas... – Comecei a olhar para o chão a tentar arranjar uma desculpa melhor do que a confiança ou o João para não entrar em casa dele. Já sei! – Não quero ir, pronto é isso! – Confessei.
-Caso não te tenhas apercebido já estás na minha propriedade.. – Ri-me. Não estava em casa dele mas estava na porta.
-Então eu vou ali para a rua para o outro lado da porta e tu falas aqui de dentro pode ser? – Perguntei a sorrir.
-És mesmo tonta Qeu! – Fingi-me ofendida. – Queres ir para a piscina então? – Não estava tempo para tal e não tinha roupa por isso podia perfeitamente ser á beira da piscina. Mas será que todas as minhas relações tinham algo a ver com água? Comecei a namorar com o João na praia, vou ter esta conversa com o Ezequiel á beira da piscina, será que o problema era mesmo eu que tinha “água” na testa? Comecei-a a rir sozinha e o Ezequiel acompanhou-me mas depois parei porque já me doía o maxilar de tanto me rir.
-Vamos lá senhor Ezequiel! – Caminhamos até á piscina e enquanto ele se sentou numa das espreguiçadeira eu sentei-me com as pernas dentro de água, estava de calções e só me ia refrescar, não tinha mal, assim esperava.
-Viste a mensagem que te deixei no correio de voz? – Olhei para ele que acenou com a cabeça positivamente. – E então porque não disseste nada?
-Raquel. – Levantou-se e sentou-se ao meu lado. – Eu não acredito que tu só me vejas como um amigo. – Estava a custar-me ouvir aquilo, principalmente quando me dizia olhando-me nos olhos. – Nós começamos a nossa história ainda há pouco tempo é certo mas já é uma história... Particular. Não acredito que não tenhas qualquer tipo de sentimento por mim. – Ia abrir a boca e responder mas ele não me deixou e continuou. – Deixa-me acabar por favor. Sei perfeitamente que combinamos que iamos ficar amigos mas eu tinha de te dizer o que sinto antes de tomar alguma decisão, seja ela qual for. Podes dizer que não sentes nada mas eu vou continuar com as minhas dúvidas, ainda não me consegues olhar nos olhos, ainda tens necessidade de ficares agarrada a mim e a tua preocupação em não quereres entrar em casa? Quero ver-te justificar isso não é para mim mas para ti própria! Não vou tentar nada, tu és namorada do João e eu respeito isso, estás feliz com ele e a tua felicidade está acima da minha! Mas só te peço para pensares bem no que vais fazer, por favor, eu estarei sempre aqui do teu lado seja a tua escolha qual for. – Olhei-o diretamente nos olhos enquanto ele se levantava e sentava-se ao meu lado. Continuavamos com os olhares cruzados um no outro, não sabia mesmo o que dizer, secalhar o silêncio era mesmo o que o momento pedia. Sentou-se ao meu lado e num gesto, meio involuntário aproximei os nossos corpos , todo o nosso corpo estava a centímetros e as nossas faces estavam violentamente próximas, aquela (pouca) distância que havia entre nós era suficiente para num impulso cometermos um erro. Havia desejo entre nós, mas não era um desejo sexual, era um desejo muito mais puro, o desejo apenas de sentir os seus lábios a saborearem os meus, as nossas línguas cruzadas como uma só. Nós, juntos. Simples. Cravamos ainda mais os nossos olhares, não pensei em nada, nada mesmo, não conseguia.
Fechei os olhos e coloquei as minhas mãos sobre o seu peito, os nossos lábios estavam demasiado próximos, bastava eu mexer os lábios que se cruzavam, sentia a sua respiração nos meus lábios. Aquele silêncio e aquele momento sabiam bem, até que...

You tell all the boys no (Dizes não a todos os rapazes)
Makes you feel good yeah (Faz-te sentir bem)
I know you're out of my league (Sei que estás fora do meu alcance)
But that won't scare me way out no (Mas isso não me vai assustar e afastar)

Aquela música despertou-me para a dura realidade, continuamos tão próximos como estavamos antes, os olhos dele estavam fechados e estavamos á espera do momento certo, ou talvez do instinto a falar. Nenhum dos dois queria unir os lábios, queriamos saboreâ-lo mas faltava coragem, sabiamos que isso ia trazer resultados que não seriam positivos.

You've carried on so long (Levaste isto por tanto tempo)
You couldn't stop if you tried it (Não consegues parar nem se tentasses)
You've built your wall so high (Ergueste um muro tão alto)
That no one could climb it (Que ninguém consegue subi-lo)
But I'm gonna try (Mas eu vou tentar)

Não, não podia fazer aquilo! Iria sentir-me culpada para o resto da minha vida, iria viver com remorsos, iria criar uma falsa expectativa ao Ezequiel, iria enganar o João e eu não iria perdê-lo. Afastei-me a pouca distância que os nossos lábios tinham e encostei a minha cabeça ao seu peito, era isso que precisava. Precisava de sentir-me viva e segura, e nos braços do Ezequiel eu podia escutar o seu coração e matar as poucas dúvidas que tinha sobre o que ele sentia.

Would you let me see beneath your beautiful (Deixas-me ver por baixo da tua beleza?)
Would you let me see beneath your perfect (Deixas-me ver por baixo da tua perfeição)
Take it off now girl, take it off now girl (Desfaz-te disso agora, rapariga desfaz-te disso agora, rapariga)
I wanna see inside (Quero conhecer-te por dentro)
Would you let me see beneath your beautiful tonight (Deixas-me ver por baixo da tua beleza esta noite?)
Agora era a minha vez de o lembrar um pouco da nossa história, sussurrei:
You tell all the girls go (Deixas todas as raparigas ir)
Makes you feel good, don’t it? (Faz-te sentir bem, não é)
Behind your Broadway show (Por trás do teu espetáculo da Broadway)
I hear a voice say please don’t hurt me (Ouvi uma voz dizer por favor não me magoes)
You’ve carried on so long (Carregaste isto por tanto tempo)
You couldn’t stop if you tried it (Não consegues parar mesmo que tentes)
You’ve built your wall so high (Ergueste um muro tão alto)
That no one could climb it (Que ninguém consegue subi-lo)
But I’m gonna try (Mas eu vou tentar)


A música terminou e eu afastei-me por completo dele, levantei-me da piscina enquanto ele me olhava e tinha de dizer alguma coisa antes de me ir embora por mais sem sentido que fosse, por mais aleatória tinha de a dizer:

-João. – Confessei enquanto me lembrava dele. – Desculpa Ezequiel, eu... Adoro-te mas se tiver que optar entre vocês, eu prefiro o João. – Disse enquanto tentava controlar as lágrimas. Estava a falar verdade, ou talvez não, sentia-me bem e era feliz com os dois. Como poderia estar a duvidar daquilo que sentia? Tinha feito amor com o João há pouco tempo, tinha declarado o meu amor por ele, tinha aceite o seu pedido de namoro e era feliz como poderia ter a minha cabeça baralhada entre o meu passado e o meu presente? A minha história de amor com o Ezequiel faz parte do passado, as memórias tem de ser enterradas, com o João estou a viver o presente, a minha felicidade de agora. Tinha que falar com ambos e esclarecer tudo. Virei costas e fui-me embora dali, afastei-me daquele sítio e dele que só me traziam recordações. Estas que não queria viver. Ou talvez quisesse, sentia-me bem nos braços do Ezequiel, como me sentia nos braços do João. Corri e fui até ao exterior da casa do Ezequiel, tinha a mala comigo e não tinha muito dinheiro comigo, talvez não o suficiente para apanhar novamente o táxi e ir para onde quer que fosse. Tinha o telemóvel no bolso das calças e a carteira, chaves e tudo o resto dentro da mala. Até que sinto alguém a tocar na mala, agarrá-la e fugir. Não consegui ver quem era, não tive tempo de reagir, senti-me fraca e impotente. Estava entregue a mim mesma e agora? Sentei-me no chão, encostei-me a um muro e chorei, soltei todos os meus sentimentos naquelas lágrimas, raiva, frustação, impotência e não saber ao certo sobre o que sentia por eles. Até que oiço alguém a gritar o meu nome, não muito longe:

-Qeu. – Eu conhecia aquela voz, era o Ezequiel. Sentou-se ao meu lado e abraçou-me fortemente, não perguntou nada apenas deixou-se estar assim. Mas eu não me sentia totalmente bem, faltava alguém para me sentir realmente bem. O telemóvel que estava no meu bolso tocou. Rezava para que fosse o João. Separei os meus braços dos do Ezequiel e agarrei no telemóvel. Olhei para o ecrã e as minhas preces tinham sido ouvidas, era o meu namorado. Precisava também de estar com ele. Não era um momento de escolha, era um momento em que precisava dos dois ao meu lado. Atendi o telemóvel sinceramente sem saber bem como o fiz, estava nervosa, super nervosa a chorar. Atendi a dizer:

-Amor preciso de ti! – Chorei ainda mais compulsivamente e o Ezequiel abraçou-me fortemente. Pegou no telemóvel e disse:

-João, a Raquel foi assaltada, não há tempo para justificações. Vem ter connosco o mais rápido que puderes, estamos ao pé da minha casa. Sabes onde era a antiga casa do Luisão? É essa mesma! Despacha-te! Até já. – Ele agarrou-me ao colo e eu deixei que acontecesse.

-Vou levar-te até minha casa, o João já vem ter connosco mas primeiro preciso que me expliques o que se passou. – Disse enquanto caminhavamos a caminho de sua casa.

-Fui assaltada. – Era a primeira vez que dizia aquilo em voz alta, custava-me a crer, sofria e chorei ainda mais, estava desesperada. Sentia-me impotente.

O Ezequiel levou-me até sua casa e preparou-me um chocolate quente, cobriu o meu corpo com uma manta e perguntou-me imensas vezes se estava bem, estava preocupado comigo. Ouvi a campainha tocar, senti-me sem forças para me levantar e abrir a porta mas por outro lado só podia ser o João, e eu queria estar com ele. O Ezequiel falou:

-Deve ser o João, eu vou lá, não te mexas. – Não me deu tempo para responder e foi abrir a porta.

Como correrá o encontro entre os três?
Como irá reagir João a presença de Ezequiel e vice-versa? Será que ela vai contar o que se passou?

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Capítulo 26 “João ou Ezequiel? Cabeça ou coração?”

Eu queria dizer-lhe exatamente o que sentia, mas eu não sabia bem o que sentia, mas sabia exatamente o que pensar, sempre me disseram para pensar com o coração e não com a cabeça, mas eu aprendi que devia pensar com esta, para evitar sofrer. Queria apenas o melhor para o Ezequiel, queria que ele fosse feliz, ele merecia isso por tudo aquilo que era e por tudo o que vivi ao lado dele, eu gostava que ele encontrasse alguém que o amasse e que o fizesse feliz, alguém que o merecesse, eu gostava e desejava que ele encontrasse alguém como eu encontrei o João, que me faça feliz. E eu sabia que eu nunca era pessoa para o Ezequiel, como não era para o João, mas se ele lutara por mim e gostávamos um do outro porque não tentar?
Respirei fundo e comecei a chamada… Um toque, dois toques, três, quatro e cinco. A cada um eu sentia-me a ficar mais nervosa, parecia que me faltavam as palavras, o que achei uma parvoíce. Nós eramos amigos porque razão haveria de ficar assim? Eu não o queria magoar, queria o melhor para ele, que ele fosse feliz com os que ama e comigo ele nunca seria feliz. Não sou previsível, muitas vezes tomo atitudes que nem eu as entendo e o Ezequiel merecia alguém mais maturo e eu sentia que não a tinha, ele merecia alguém melhor. Além do mais eu estou apaixonada pelo João, e queria dizê-lo mas ao mesmo tempo não, queria que o Ezequiel soubesse que o melhor para ele era esquecer-me mas não o queria magoar. Mas como faria isto? Perdida assim nem entendi que já tinha chegado ao correio de voz, por isso decidi respirar fundo e deixar a minha mensagem:
“-Ezequiel… - Respirei fundo. – Não sei como te dizer isto mas aqui vai. – Fechei os olhos e imaginei que estava a conversar diretamente com ele, mas sem o olhar diretamente naqueles olhos e naquela barba extremamente atraentes e que me iam tirar toda a vontade de falar com ele. Concentra-te Raquel! – Ontem não tive a atitude correta, devia ter-te respondido como merecias, mas não o fiz. Foi uma atitude infantil da minha parte. – Abri os olhos. – Desculpa, tu não merecias. Mas eu também não te mereço, tu mereces alguém previsível, alguém que te dê tudo o que tens direito e eu nunca te darei, tu és demasiado para mim. Sei que não devia estar a deixar este recado idiota no teu correio de voz que provavelmente nem ouvirás mas pelo menos tentei. Vou dar-te um conselho de amiga, esquece-me e procura alguém que realmente te mereça e que te faça feliz, como eu nunca faria. Mas não é conversa para se ter ao telemóvel, quando puderes liga-me ou assim para combinarmos qualquer coisa e falarmos os dois. Beijinhos. – Desliguei e a chamada de voz foi enviada.

É estranho tudo aquilo que me está a acontecer, eu não merecia que o João e o Ezequiel lutassem por mim, era estranho tudo o que vivia na pele. Vivi uma história com o Ezequiel, não posso negar, e foi uma história intensa mas deu uma volta enorme. Começamos por nos conhecer e envolver, depois começamos a namorar e acabamos, dei-lhe um “golpe baixo” e acabei por “descobrir a gravidez”, isto tudo em alguns meses… Parece que saltamos muitas etapas em pouco tempo. Depois odiamo-nos e ele aceitou a custo o nosso filho, depois descobrimos que não havia bebé e eu comecei a namorar com o João (até a falar do Ezequiel o meu namorado não me sai da cabeça!) e eu e o Ezequiel tornamo-nos amigos, mas ele decidiu ligar-me e confessar que me ama… Eu nunca tinha ouvido da boca de nenhum homem que me amava, nem da boca do pai do Rodrigo, a primeira pessoa de quem o ouvi foi do Ezequiel e isso marcou-me.
Acabei por passear pelo centro comercial e passear, aproveitei para ver algumas coisas que as lojas tinham, consegui distrair-me, ou melhor não pensar neles durante um bocadinho mas sempre que me lembrava agarrava no telemóvel. Tanto para ver se o Ezequiel já tinha dado sinais de vida ou se o João já estava despachado. A minha vontade era pegar num táxi e ir ter com o Ezequiel, saber o que ele achava, pedir-lhe desculpa, fazer qualquer coisa que o fizesse sentir melhor, podia até ter uma atitude que depois me fizesse arrepender mais tarde, fosse uma atitude má mas era uma atitude, mais ou menos rebelde, mais ou menos parva. Ou então, para ver se o João, já me tinha ligado para falarmos, para estarmos juntos e eu lhe dar os parabéns. Para o animar, não lhe iria dizer o que atravessava, nem o que ia no meu pensamento, não lhe iria contar nada do Ezequiel. Ficaria apenas comigo este pequeno segredo até ele ficar bem, não queria arranjar problemas, até porque ele os tinha bem melhores.  E não ia faltar no dia de hoje, ele precisava de mim e eu não iria falhar, como falhei com o Ezequiel.

Acabei por ir ao twitter e lembrei-me do que o Ezequiel tinha publicado na noite anterior, e acabei por publicar também, em forma de indireta, ao que se passava na nossa vida.

"Quando não sabes o que pensar ou o que sentir, aposta no que sabes.. Ou no que não sabes!"
Não sabia se o Ezequiel entendia que aquela mensagem era para ele, mas difícil era não entender. Eu sabia que o João não seguia o meu twitter, e gostava que assim fosse, tinha alguma liberdade, sem ter de me justificar a ninguém. Aliás todas as pessoas relacionadas com aquela rede social, nenhuma delas eu conhecia pessoalmente, ou melhor fazia parte da minha vida. Exceto o Ezequiel. Ele entretanto também tinha publicado um tweet, quem diria que num curto espaço de tempo tínhamos publicado dois pensamentos semelhantes na mesma rede social.

"É cómico como o amor consegue ser caricato... A cabeça está numa pessoa e o coração noutra. E agora?!"
Será que ele se estava a referir a mim?! É verdade que eu não sei o que pensar, nem o que sentir. Eu gosto do João, eu namoro com ele, sinto-me bem ao lado dele. Sou feliz ao lado dele. Não quero abdicar dele na minha vida, não quero que ele deixe de ser meu namorado, estou bem ao lado dele. Além do mais eu já conhecia o João antes de conhecer o Ezequiel, já tínhamos uma pequenina história, é nossa e ainda podemos escrever muito mais. Eu já imaginei o nosso futuro, casados e com filhos. Duas crianças, um menino e uma menina, cada um com o nome do falecido avô. Eu imaginei e senti coisas com o João que nunca tinha sentido. Mas o Ezequiel... É ele mesmo. Temos uma história caricata e conheci-o numa altura em que não havia o mínimo de planos para o conhecer, a mística da gravidez, a gravidade da situação em que o pus, o nosso (amor) que se transformou em ódio, que se transformou em amizade. Não posso ter o coração baralhado, já não sou uma adolescente típica de 14/15 anos confusa quanto ao que sente e a dois rapazes. Não, eu tenho 18 anos, normalmente é o fim da adolescência e o inicio da idade adulta, devia ser a altura das certezas e das decisões. Como poderia gostar de alguém, de namorar com essa pessoa e mesmo assim não saber o que sentir em relação a outra? Os sentimentos deviam ser claros, devíamos saber exatamente o que sentir, o nosso coração devia dizê-lo de forma clara e simples, e se nos deixasse alguma dúvida, devíamos consultar a nossa cabeça, ela devia ser a mais simples, a solucionadora dos nossos problemas. Mas até aqui tenho azar, porque o meu coração não é claro, este diz-me que tenho duas histórias.. Com os dois, completamente diferentes. E dizia-me que eu gostava dos dois, mas é possível gostar de dois rapazes ao mesmo tempo? A minha cabeça dizia que eu era feliz ao lado do João, que deveria esquecer o Ezequiel, porque é com o João que estou bem e feliz. Distraída com os pensamentos mais complicados que há memória na história da minha cabeça e coração quase não ouvia o toque do telemóvel. Esperava que fosse o  Ezequiel a combinar o nosso café, mas assim que olhei para o ecrã senti alguma desilusão... Era o João. Eu não devia sentir isto, eu devia estar feliz só de pensar nele. Depois de respirar fundo, acabei por clicar no botão verde e atender a chamada.

-Olá príncipe! – Disse eu, fingindo-me de entusiasmada. Eu queria estar com ele e animá-lo, queria tê-lo ao meu lado mas tinha medo que ele entende-se que algo não estava bem. – Então onde estás?

-Estás estranha Qeu e não me mintas porque sei que algo não está bem, eu conheço-te. Estou a pegar no carro e vou ter contigo á porta principal do Colombo daqui a 5 minuto sim? – Disse o João. Bolas! Ele entendeu que algo se passava até depois de eu tentar que ele não percebesse que algo não estava bem.

-Sim...  Realmente algo não está bem. – Disse calmamente. – Estou preocupada contigo. E só fico bem depois de saber que estás minimamente bem. – Eu conhecia-o e ele a mim por isso percebi que sorria.

-Nós os dois somos um só. – Disse e eu senti o meu coração bater ferozmente, ainda ficava com um nervoso miudinho sempre que sabia que ia estar com ele. – Vá agora vou desligar para fazer-me a caminho. Beijinhos gosto muito, muito de ti. – Não gostava de responder eu também, mas não me sentia á vontade de responder que também gostava muito dele, não depois de tantas dúvidas nesta cabeça e coração por isso optei por algo que não era vulgar em mim.

-Beijinhos. Eu também! – E desliguei a chamada sem lhe dar tempo de muita resposta. Eu faria tudo para ele não entender que algo estava diferente em mim, mas sei que ele iria desconfiar, porque existe palavras que inevitavelmente ele ira compreender que não eram comuns em mim e que as diria. Mas faria tudo para ele não entender que algo estava diferente em mim, porque ele não se sente bem e precisa do meu apoio e tudo o que me envolvia estaria em segundo plano. Eu gostava dele e muito, mas porque é que o Ezequiel me estava a afetar tanto?!

Acabei por sair do sítio onde estava e ir até junto da porta principal daquele centro comercial e pouco esperei até que apareceu o João e eu fiquei feliz, sorri e cumprimentei-o com um beijo sentido, mas nem enquanto o beijava me conseguia esquecer do telefonema do Ezequiel e do recado que lhe deixara no telemóvel. Será que ele responderia?! Será que tinha visto e não queria responder?! Qeu concentra-te, estás com o João, o teu namorado!!

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Estive um bom bocado com o João e consegui animá-lo, ele estava mesmo triste, muito desanimado, nunca o tinha visto assim e isso doía-me no coração. Saber que não podia fazer nada por ele, magoava-me que a vida não fosse justa, nem um pouco, ele não merecia que a vida fosse tão injusta mas não podia fazer nada. Mas nunca deixaria de o ter ao meu lado e de eu o ter ao meu lado. Porque mais do que namorados somos melhores amigos. E isso não há nada que mude.

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Mas os momentos de mais ternura, amizade, carinho e ternura, as minhas tentativas de o animar, tornaram-se em momentos mais românticos, em momentos mais de cumplicidade, pode parecer errado mas como parava algo que me parecia tão certo na altura?

Estávamos sentados no sofá, a trocar beijos mais intensos, mais românticos e sentimentais, talvez estivéssemos assim num momento mais carente e isso estivesse a fazer com que o momento não fosse conduzido pelo sentimento correto. O sentimento de perda que ele nutria, o negativismo e a morte que ele sentia no coração e a minha cabeça confusa em relação a dois rapazes deram origem a que a mão dele fosse para dentro da minha camisola, e senti um arrepio atravessar a minha espinha. Mas deixei-me levar pelo momento, eu gostava muito do João, mas ainda não poderia dizer que o amava e sabia que o iria fazer me ajudava a clarificar o que sentia. Nenhum dos rapazes merecia que eu lhes estivesse a fazer isto, mas eu também não o queria, de forma alguma, mas a culpa disto tudo era da minha cabeça e coração.

As mãos do João começaram a explorar o meu corpo foram seguindo a direção da minha cara, até que chegaram próximas das minhas mangas, sem nunca os seus lábios saírem dos meus, até que no momento em que ia despir a minha camisola, separou os nossos lábios e me olhou olhos nos olhos, como pedindo autorização para continuar. Eu sorri e fiz sinal com a cabeça para que continuasse, ele despiu a camisola e de seguida tirei-lhe eu a camisola e pude olhar para o seu corpo nu, não pude deixar de me sentir bem. Ele era tão belo e ao mesmo tempo tão meu, o meu corpo não era perfeito, estava construído de uma forma particular e eu sentia-me confiante, mas como comparar o corpo dele com o meu? Deitei-me de barriga para cima no sofá e ele colocou-se em cima de mim. Já o tínhamos feito mas tenho de confessar que não por muitas vezes, ele só o tinha feito com uma rapariga antes de mim e eu tinha-o feito mas nunca com um sentimento tão grande e forte a bater no meu coração. E isso era estranho, será que mudava alguma coisa em relação ao momento em si? Nunca entendi a diferença que faziam entre sexo e amor... Será que existia? E será que eu iria entender se haveria realmente ou não?

Comecei a beijar o seu peito em direção ás suas calças, sempre com beijos românticos e calmos, e ele mordia o lábio para não soltar gemidos de felicidade ou de prazer. Cheguei perto do botão das calças e sorri, olhei para ele nos olhos e tirei o botão das calças com os dedos. Depois voltei para os seus lábios e comecei a beijá-lo e as suas mãos foram de encontro ás minhas nádegas, segurando-me com força, o que me fazia sentir, realmente desejada. Depois foi a sua vez de chegar próximo dos meus curtos calções e sem dar conta os despir. Depois colocou a mão no bolso e abriu a carteira a uma velocidade que nunca tinha visto, porque seria? Tirou um preservativo e deu-mo. Ele era responsável, não estava nos nossos planos sermos pais mas nem me tinha lembrado do mesmo, ainda bem que ele o fez. Despi-lhe as calças e rapidamente acelaramos as coisas, ele despiu-me a roupa interior e pouco depois despi-lhe eu a dele e coloquei o preservativo. A partir daquele momento já podíamos fazer o que quer que fosse que já não haveria arrependimentos no futuro. A probabilidade que eu tinha de engravidar seria nula e eu não queria correr o risco de (voltar) a engravidar. Ele deitou-se sobre mim e respirei fundo antes de ele me beijar e começarmos o momento em si... Que foi intenso, repetido até á exaustão e bom. Talvez como eu nunca me tinha sentido ao lado de ninguém, será que era porque estava apaixonada por ele? O sentimento era diferente, e as emoções que me causaram não tinham comparação possível, talvez descrever o momento não seja o indicado. Porque nem eu sei fazê-lo, senti-me bem a fazê-lo assumo, podíamos não tê-lo feito no momento certo nem com os motivos certos mas havia forma de não me sentir bem a fazer amor? Gostava do João e ajudou-me a esclarecer algumas dúvidas mas tinha medo dele se arrepender, de não ter sido o que ele estava á espera... Foi bom, muito bom, excelente, mas será que era uma reviravolta na nossa relação? Adormecemos depois de gastarmos todas as energias, ele deitado e eu deitada sobre ele, o seu peitoral servia de almofada enquanto o meu corpo despido estava ao lado dele.

Adormecemos mas foi durante pouco tempo, porque acordei pouco depois com um pressentimento horrível, talvez um sonho ou algo diferente. Abri os olhos, sentei-me no sofá deixando o corpo do João e disse:

-Ezequiel. – Será que era um pesadelo? Eu não me lembrava, de todo, por muito que me esforçasse não tinha justificação possível.

Tinha de acabar com aquelas dúvidas e receios, tinha de falar com ele, mas... Agora? Tinha acabado de fazer amor com o João e ele dormia profundamente, não o queria acordar por isso decidi levantar-me e procurar a minha roupa que estava espalhada pelo chão. Vesti-me e fui até á minha mala e peguei num caderno e numa caneta e escrevi:

“Aconteceu uma emergência e tive de me ir embora, não te quis acordar por isso deixei-te dormir descansado e escrevi este recado. Depois falamos sobre... Tudo. Tudo o que aconteceu.
Beijinhos adoro-te meu João”

Rasguei a folha do caderno e deixei-a sobre a mesa daquela sala e fui-me embora daquela casa, não estava arrependida do que tinha feito, eu gostava e muito do meu namorado, mas tinha de ir falar com o Ezequiel. Esclarecer as coisas e falar com ele mas o que lhe dizer? Quando estiver com ele, logo pensarei, sei que deixarei o meu coração falar, mas ele também não sabe. Neste momento o que sei é que preciso de estar com ele e falar.

Fechei a porta de casa com o mínimo de barulho possível. Chamei um táxi e fui até casa do Ezequiel, tinha de falar com ele, não amanhã, não quando ele pudesse mas sim agora. Paguei ao taxista e corri a curta distância entre a estrada e casa dele e toquei freneticamente á campainha, ele precisava de me ouvir, eu precisava de o ouvir e de estar com ele. Não sei porquê, não tenho justificação possível, mas queria e precisava.
Como correrá a conversa?
Será que Qeu optará por João ou Ezequiel? Como reagiram os dois?

domingo, 12 de maio de 2013

Capítulo 25 “És melhor que café pela manhã!”

-Eu não queria fazê-lo assim… Mas tu não me deixaste outra alternativa. – Disse naquele português espanholado. – Na verdade eu menti-te. – Se havia coisa que eu detestava era a mentira e não tolerava que por algum motivo o fizessem. Não sabia o motivo e o que levara a tal mas não era forte o suficiente. – Eu nunca deixei de gostar de ti. Na verdade eu não estou contente com a minha posição de teu amigo. Eu quero… Algo mais. Gosto de ti. Eu sei que neste momento namoras com o João, mas depois da história do bebé não acredito que não sintas nada por mim. É impossível, tu gostas de mim, eu sinto, eu sei. E juntos, sei que podemos ser felizes. Deixa o João, por mim. – Fiquei sem reação possível. Não esperava aquelas palavras, não de todo. Estava tão feliz com o João e gostava dele, mas criei uma certa ligação com o Ezequiel. Afinal nós (pensamos) esperar um filho. Nós tínhamos falado sobre o que queríamos em comum e falamos em amizade, eramos amigos e nada mais me tinha passado pela cabeça.
Desliguei a chamada e o telemóvel. Podia não ser meu, mas eu nem pensei nisso. Voltei para o quarto onde estava a dormir ao lado da minha prima e comecei a olhar para o teto, o sono não aparecia e a minha cabeça estava longe de todo e qualquer pensamento. Por isso liguei o computador que a Rita tinha no quarto dela e era escusado pensar que ela acordaria, não acordava por nada. Como não sabia o que pensar ou fazer, acabei por pesquisar fotografias do João e do Ezequiel.



O João é o meu namorado, prova todos os dias que gosta de mim e me quer presente na vida dele. Um passo de cada vez era o nosso lema, e tínhamos tanto em comum, passamos por muitas experiências juntos. E eu sentia-me feliz ao lado dele, imaginava o nosso futuro juntos, em casarmo-nos e sermos felizes juntos, termos os nossos filhos e realizarmos os nossos sonhos. O João tinha apenas 18 anos (prestes a fazer 19) mas parecia tão “menino” mas ao mesmo tempo tão homem, era diferente do Ezequiel, parecia ter tanta estabilidade mas por um lado tudo pode acabar, afinal não deixava de ter a tenra idade que eu também (quase) tinha. Mas pela primeira vez, eu sentia que era o homem que precisava na minha vida. Tinha segurança e estabilidade, como nunca a tive. E sentia-me numa calma super natural e feliz, como não esperava.



O Ezequiel é em parte, o meu passado mas ao mesmo tempo é o meu presente. É meu ex-namorado, mas está na minha vida e do meu namorado. Lutou por mim quando eu já tinha desistido dele, e assumiu que gostava de mim quando eu lhe dizia exatamente o contrário, e agora que tenho namorado, ele volta a assumi-lo. Fui feliz ao lado dele, mas neste momento sou mais ao lado do João, mais do que fui quando namorava com o Ezequiel, apesar de termos estado juntos tão pouco tempo. Vivemos experiências diferentes, eu fiz-lhe mal mas ele continua a gostar de mim, no fundo talvez seja eu com medo de não sei. Ele já era um homem, tinha 26 anos, já tinha vivido milhões de experiências que nem me passavam pela cabeça, já tinha uma estabilidade de um homem adulto e eu não a tinha, mas queria senti-la, mas por um lado o João fazia-me mais feliz do que me senti com o Ezequiel.
Perdida em pensamentos, mas com a cabeça dividida fui até ao meu facebook, e depois de andar as ver as novidades, fui até ao perfil do meu namorado e li com muita atenção o texto que ele tinha partilhado:

“Existem sentimentos que demoras uma vida para conseguir traduzi-los, por vezes podem ser dores, que não cabem no nosso peito, dores que pensamos que nunca mais voltaremos a ser os mesmos, que não conseguimos mais ser felizes. Pensava que não conseguia mais viver sem a minha mamã, que ela era o meu tudo, mas fui forte e estou vivo e luto por ti. Tu olhas por mim e pelo maninho no céu. E rezas por mim e por quem me faz (dentro dos limites) ser feliz, é ela que me compõe aos poucos, que me faz sorrir, que me faz sentir bem. E posso dizer orgulhosamente que te adoro, minha Qeu <3 “
Mas… Mas… O Ezequiel e o João tiraram o dia para me surpreender? A atitude romântica, a declaração de amor do meu namorado, deixou-me nas nuvens. O sentimento que nutrimos um pelo outro é forte, e não é apenas o impacto do início da relação em que tudo é rosas. Aliás a nossa relação começou com espinhos, difíceis de ultrapassar, que nos podiam fazer desistir de tudo, mas não. Lutamos e Deus esteve a nosso favor, e hoje depois de espinhos estamos nas pétalas das rosas. E hoje, sinto-me bem. E talvez isso, tenha provocado esta dificuldade na vida, custava-me assumir mas talvez não estivéssemos destinados a estar juntos. Mas eu lutarei contra a exaustão, contra tudo para ficarmos juntos. Como é que fiquei tão presa á declaração do Ezequiel.
Respondi á declaração do João, sobre a sua mensagem com o seguinte:

“ Nem tenho resposta possível… Tu surpreendeste-me e qualquer texto que escreva não tem comparação, nem forma bonita ou á altura do que tu… Sentes e escreves. Não tenho muito talento para a escrita mas aqui vai: Sabes aquele sentimento tão forte que te faz lutar mesmo contra os teus próprios sentimentos? Que te faz adorar e acreditar em algo que nunca pensaste acreditar? E tudo o que sonhei, tudo o que pensei para um amor tu tens-te demonstrado assim! E eu tenho mais orgulho em ti, que tenho em mim, adoro-te João <3”
Não tínhamos assumido a relação publicamente, mas com aquelas declarações haveria algo melhor? Eu queria que toda a gente soubesse o que sentia por ele, que estávamos juntos, mas não queria ter fama por isso. Queria cantar, dançar, libertar em forma de dança todas as minhas energias e se algum dia lutasse por este sonho, viria “as minhas pernas cortadas” porque seria sempre a “eterna namorada” de alguém. Mas eu sentia que podia pensar num futuro com ele. Afinal quem, quando está numa relação, não pensa?
Decidi ir até ao meu twiter, onde por acaso também segui o do Ezequiel. E escreveu em espanhol, o seguinte tweet, mas eu consegui traduzir para português:

“Às vezes uma amizade não nos completa, por vezes é preciso um amor para nos fazer felizes. R”   

Aquele tweeter era direto para mim. Ele não me tinha dito esta frase, nem tinha escrito o meu nome, mas era direto para mim. Falava em amizade e amor, e eram essas palavras que tinha utilizado quando falara comigo.
Eu…Cada vez estava mais certa que começava a amar o João, afinal era o meu namorado. Já tinha pensado no nosso futuro juntos, já o tinha idealizado, o que nunca acontecera com um namorado meu. Só com o Ezequiel. E isso foi depois do fim da nossa relação, tínhamos um filho em comum para criar, teria de pensar, afinal ele queria ser um pai para o meu filho. Nem mesmo se eu não o quisesse na minha vida, e não tinha o direito de lhe tirar o papel de pai. E era tão difícil ser mãe solteira, e pelo que conhecia dele parecia ser o pai ideal par o meu filho. Podia dar-lhe tudo o que eu não podia e essa ideia agradava-me.
Eu gostava do João, sentia-me bem próxima dele, queria estar com ele, haveria mais alguma dúvida a ter em relação ao meu namoro e ao meu ex-namorado? Não, a decisão era demasiado óbvia. Estava ao lado do João, em qualquer altura e amanhã sem dúvida, falaria com ele sobre o que se passou hoje. Queria dizer-lhe o que o Ezequiel me confessou, mas tenho medo que ele faça algo que se arrependa, mas eu confio nele e com a sua personalidade e feitio duvido que faça algo de mal. E como conseguiria esconder algo tão forte dele? Como conseguia viver a esconder algo tão forte, tão, posso confessar gigante? Com tantos pensamentos e já esgotada por tantos pensamentos e emoções, acabei por me deitar e adormecer pouco depois. Mas não sem antes ligar o telemóvel.
Cobri o meu corpo com as mantas e sonhei, sinceramente não me recordo com o que foi. Acordei de manhã com o som do telemóvel, o meu sono era leve e foi abalroada por tal. Peguei sem abrir os olhos nele e atendi.

-Sim. – Disse quase a esticar a curta palavra ao máximo, de tamanha preguiça que sentia.

-Bom dia princesa!- Eu conheci-a e bem aquela voz. Fez-me logo sorrir e sentar na cama. Ele era melhor que café pela manhã. Ouvir a sua voz pela manhã era tão gratificante, tão calmo e tão bom. – Acordei-te?

-Sim, mas não faz mal. És melhor que café pela manhã! – Disse enquanto me levantava da cama.

-Só tu para me pores bem-disposto a esta hora! Como estás?

-Estou bem, como era possível não estar depois de acordar com a tua voz? E tu?

-Acordei bem mas sinceramente não me sinto grande coisa. Estou naqueles dias em que só me apetece chorar, daqueles dias em que tudo me desilude e entristece. Que me sinto só.

-Vou só tomar banho, vestir-me e vou ter contigo. Mas escuta-me tu não estás só, estarei sempre aqui a teu lado. Tens amigos e a tua família, nunca vais caminhar sozinho!

-Vou agora para o treino, amor… Podes vir ter comigo mas vais ficar á espera. Agora no treino vou conseguir concentrar-me para mais logo conseguir dar o meu melhor no jogo. E eu sei que não estou sozinho, mas estou naqueles dias em que me sinto em baixo. – Disse baixando o tom de voz.

-Não te esqueças que tens a estrelinha mais brilhante do céu a olhar por ti! E não desanimes com certeza os teus colegas te animaram e eu estarei aqui sempre para ti!

-Obrigada princesa mas agora tenho de ir para o treino… Desculpa amor.

-Não faz mal. Vai lá meu bem. Depois quando puderes liga-me.

-Está bem amor. Até já! Gosto muito, muito de ti! Beijinhos

-Eu também gosto muito, muito! Beijinhos e bom treino!

Desligamos a chamada e eu comecei a sentir saudades dele, do seu beijo, do seu toque, do seu abraço. Comecei a sentir saudades… Dele. E todos aqueles sentimentos eram novos para mim, eu nunca tinha realmente gostado de alguém. Podia dizer que por enquanto somente o adorava, mas se continuar a sentir todos estes sentimentos de uma vez, posso (e confesso que tenho medo) de o amar. Eu não fui feita para estar “presa” a relações, para estar presa a alguém e confesso que tenho medo de me magoar, mas também magoar essa pessoa.
Tenho medo de falhar enquanto namorada e amiga, e o João não merece que eu falhe. Ele tem sido perfeito para mim e eu não posso dar-lhe tudo o que precisa, tudo o que deseja, eu só posso prometer que lutarei por nós.
Fui tomar banho e vesti-me. Acordei a minha prima que nos foi preparar o pequeno-almoço e eu fui até ao computador, saber mais sobre o jogo que a equipa B do Benfica e principalmente o “meu” João faria. Era contra o líder da Liga de Honra, contra o líder. Era um jogo difícil, mas com certeza iriamos ficar com uma vitória mesmo que difícil. Como diz o Jorge Jesus: “nem que fosse por meio a zero”. Eu tenho fé no Benfica e sei que o João faria tudo pela equipa e os seus colegas também. Não só em nome próprio como em nome da grande equipa que representam.

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O tempo passou e passou. O meu namorado foi mais forte e embora o treinador pensasse e os colegas que ele não se sentia bem para jogar, ele decidiu que queria, iria fazê-lo por ela. E pela sua mãe. Foi convocado e era titular. Voltei a falar com o João e ficou combinado que íamos ver o jogo á bancada presidencial, apenas eu e a Rita. Mas ele não se sentia bem, estava triste e desanimado e isso deixava o meu coração fraco, ficava triste a saber que ele estava assim. Gostava dele, por isso tudo o que ele sentia, eu sentia também. O nosso amor não era irreal mas era forte o suficiente para estarmos juntos na felicidade e na tristeza, a qualquer momento.


Como seria de esperar o Benfica ganhou com uma grande diferença e o João fez um grande jogo, mas eu sabia bem que ele não estava bem. Apesar do seu brilhante jogo, eu sabia que a sua vontade era de chorar e sofrer, só ou acompanhado mas eu acompanhá-lo-ia em todos os momentos, porque mais do que namorados, nós também somos melhores amigos. Ou posso confessar que somos amigos. Mentalizei-me neste curto espaço em que estive com ele que a base para uma boa relação é não só a confiança, como a amizade. E eu adorava-o, muito. Talvez fosse todo este conhecimento de novos sentimentos que me deixe a temer o futuro. Mas algo era certo, precisava dele. E sabia que esse sentimento não desaparecia da noite para o dia. Quem sabe, o meu subconsciente ousado, pensasse no nosso futuro, casados e com filhos. Mas confesso, espero que não para tão cedo. Mas a chamada do Ezequiel marcou-me. Não sei porquê mas marcou-me. Ele… Amava-me. Ou então só me adorava, não sei. Mas saber que queria estar comigo e não puder, ou melhor eu não querer faz-me sofrer. A minha intenção era de todo menos de o magoar, não queria viver a mesma situação que ele e nunca a vivera na pele. Mas deve ser um dos piores sentimentos do mundo, saber que o amor não é correspondido. Sai do estádio e a minha prima despediu-se de mim, foi ter com o Nico e eu fui até ao Centro Comercial Colombo passear. E algumas recordações voltaram á minha cabeça:

(Recordação)

(…) Sorri virei costas e fui embora. As minhas 3 amigas já me esperavam, tinha combinado ir passear ao Colombo com elas como notei a Rita um pouco triste, como já sei que ela em baixo precisa de espaço não a convidei, disse-lhe apenas que ia com a Bárbara e a Telma. Fizemos-nos ao caminho e passeamos durante um bocado. Assim que decidimos ir embora, recebo a chamada da Rita que ia jantar com um amigo e com um amigo do amigo e queria a minha companhia, aceitei claro. Apanhei a Rita no carro que por sua vez não era o carro dela.
O condutor era totalmente surpresa para mim... Era pois, nem mais nem menos que Nicolás Gaitán! Pensei realmente esta miúda consegue tudo o que quer, poderosa! Não lhe perguntei nada, preferia deixar as minhas dúvidas que eram mais de 100 e apenas seguir viagem. Eles falaram durante a viagem e eu fiquei apenas calada ouvindo tudo parecia o Artur naqueles jogos cuja equipa adversária nada ataca: era mera espectadora. E chegamos a um local onde estava nem mais nem menos que “aquele” amigo do Gaitán…

(Fim de Recordação)

Fui passear pelo Colombo enquanto esperava a chamada do João, queria estar com ele. Mas a minha cabeça estava longe por isso peguei no telemóvel e liguei… O Ezequiel era uma excelente pessoa, um excelente homem e amigo. Precisava e merecia uma resposta, estava na hora de ser “mulherzinha” e responder-lhe. Mas o quê?

O que responderá Qeu á declaração de Ezequiel?
E como reagirá ele a tudo? Será que ela vai conseguir “animá-lo”?